quarta-feira, 11 de março de 2015

Psicologia do esporte : aprendizagem integrada para IN-CORPOração


Como já comentei anteriormente, toda essa experiência ciclística tem sido, para mim, um rico processo de aprendizagem, tanto do ponto de vista da pesquisa que venho desenvolvendo, quanto para o meu próprio crescimento pessoal. Aliás, estes dois pontos estão colocados de maneira indissociável. E o que quero dizer com isso é que esta pesquisa, via a experiência ciclística, se dá a partir do que venho vivendo, descobrindo, pensando, compartilhando…, ou seja, a pesquisa é o lado que procura sistematizar e refletir o outro lado que se dá na esteira da vivência da experiência; de modo que um lado retroalimenta o outro. Em termos metodológicos, poderíamos dizer que é uma espécie de pesquisa ação da vivência de consciência (expressão comum nos estudos fenomenológicos).

Mas falando de maneira mais específica sobre um dos aspectos dessa minha experiência ciclística, venho entendo-a, pelo menos para e no campo da psicologia, como fazendo parte da psicologia do esporte, pelo menos de uma psicologia do esporte na perspectiva fenomenológica.

Tenho comentado sobre o processo de aprendizagem que venho vivendo, sobretudo no que se refere a criação de hábitos. Assumo que não tenho conceituado o hábitos, mas tenho me servido da ideia para trazer um entendimento de que a aprendizagem (pelo menos do que tenho vivido nas experiências em bike) se dá, ou pode se dá de maneira mais efetiva, quando a repetição, a instrução, mas também a vivência presente na ação e a reflexão ocorrem integralmente, criando um hábito, ou seja, sendo uma aprendizagem IN-CORPOrada. Várias situações, já as expus, servem para ilustrar, como a melhor posição de colocar o pé no pedal oua posição do corpo na bike parasubidas ou descidas.

Dando continuidade a esse registro e reflexão sobre a “aprendizagem integrada”, falei de como sentia minhas mãos e braços adormecidos depois de um tempo pedalando. Ao conversar com a minha professora de Pilates, esta suspeitou que poderia ser a minha postura, ao contrair a região do omoplata e ao “colocar a cabeça enterrada entre os ombros”. Depois dessa observação que ela fez, voltei a pedalar e procurei corrigir minha postura. Lembrei também, ainda no “pedal”, que deveria ativar minha região do abdômen. Ao fazer isso me dei conta de que meu desempenho havia melhorando significativamente, inclusive sem sentir as tais das dormências. A questão era que, invariavelmente, eu “esquecia” da nova postura e da ativação, voltando, portanto, ao antigo padrão.

Dias depois relatei isso a minha professora que falou que poderia ser uma questão de não “estar presente” o suficiente na ação. Esta frase dela, que provavelmente não a percebeu, foi deveras impactante. Fiquei com aquela frase na minha cabeça por alguns dias, “estar presente”...

Estar presente na ação, ou seja, no momento do vivido, significa uma entrega inteira, uma consciência presentificada, de modo que ação é vivida de maneira intensa e consciente. Este entendimento vai ao encontro do que, contemporaneamente, o Donald Schön vem chamando de reflexão na ação. É claro que há uma polêmica importante aí, que é justamente a não explicitação da dimensão da vivência e, portanto, da consciência e da presença na ação nas expressões utilizadas pelo pesquisador. Mas em uma leitura mais profunda dos estudos de Schön há esse entendimento, ou seja, de que a reflexão na ação compreende uma afirmação da vivência consciência, do presente, portanto.

Em termos de psicologia do esporte, tenho a impressão de que tal abordagem pode ser muito útil para os processos de aprendizagem que envolvem, sobretudo o corpo, sejam em atividades esportivas competitivas, de lazer ou mesmo atividades físicas voltadas para o bem estar e prazer. Aliás, este último, o prazer, merece ainda um grande destaquea para as nossas reflexões – o que iremos fazer posteriormente

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