Como já comentei anteriormente, toda essa experiência ciclística tem
sido, para mim, um rico processo de aprendizagem, tanto do ponto de vista da
pesquisa que venho desenvolvendo, quanto para o meu próprio crescimento
pessoal. Aliás, estes dois pontos estão colocados de maneira indissociável. E o
que quero dizer com isso é que esta pesquisa, via a experiência ciclística, se
dá a partir do que venho vivendo, descobrindo, pensando, compartilhando…, ou
seja, a pesquisa é o lado que procura sistematizar e refletir o outro lado que
se dá na esteira da vivência da experiência; de modo que um lado retroalimenta
o outro. Em termos metodológicos, poderíamos dizer que é uma espécie de
pesquisa ação da vivência de consciência (expressão comum nos estudos fenomenológicos).
Mas falando de maneira mais específica sobre um dos aspectos dessa minha
experiência ciclística, venho entendo-a, pelo menos para e no campo da
psicologia, como fazendo parte da psicologia do esporte, pelo menos de uma
psicologia do esporte na perspectiva fenomenológica.
Tenho comentado sobre o processo de aprendizagem que venho vivendo,
sobretudo no que se refere a criação de hábitos. Assumo que não tenho
conceituado o hábitos, mas tenho me servido da ideia para trazer um
entendimento de que a aprendizagem (pelo menos do que tenho vivido nas
experiências em bike) se dá, ou pode
se dá de maneira mais efetiva, quando a repetição, a instrução, mas também a
vivência presente na ação e a reflexão ocorrem integralmente, criando um
hábito, ou seja, sendo uma aprendizagem IN-CORPOrada. Várias situações, já as
expus, servem para ilustrar, como a melhor posição de colocar o pé no pedal oua posição do corpo na bike parasubidas ou descidas.
Dando continuidade a esse registro e reflexão sobre a “aprendizagem
integrada”, falei de como sentia minhas mãos e braços adormecidos depois de um
tempo pedalando. Ao conversar com a minha professora de Pilates, esta suspeitou
que poderia ser a minha postura, ao contrair a região do omoplata e ao “colocar
a cabeça enterrada entre os ombros”. Depois dessa observação que ela fez,
voltei a pedalar e procurei corrigir minha postura. Lembrei também, ainda no
“pedal”, que deveria ativar minha região do abdômen. Ao fazer isso me dei conta
de que meu desempenho havia melhorando significativamente, inclusive sem sentir
as tais das dormências. A questão era que, invariavelmente, eu “esquecia” da
nova postura e da ativação, voltando, portanto, ao antigo padrão.
Dias depois relatei isso a minha professora que falou que poderia ser
uma questão de não “estar presente” o suficiente na ação. Esta frase dela, que
provavelmente não a percebeu, foi deveras impactante. Fiquei com aquela frase na
minha cabeça por alguns dias, “estar presente”...
Estar presente na ação, ou seja, no momento do vivido, significa uma
entrega inteira, uma consciência presentificada, de modo que ação é vivida de
maneira intensa e consciente. Este entendimento vai ao encontro do que,
contemporaneamente, o Donald Schön vem chamando de reflexão na ação. É claro
que há uma polêmica importante aí, que é justamente a não explicitação da
dimensão da vivência e, portanto, da consciência e da presença na ação nas
expressões utilizadas pelo pesquisador. Mas em uma leitura mais profunda dos
estudos de Schön há esse entendimento, ou seja, de que a reflexão na ação
compreende uma afirmação da vivência consciência, do presente, portanto.
Em termos de psicologia
do esporte, tenho a impressão de que tal abordagem pode ser muito útil para os
processos de aprendizagem que envolvem, sobretudo o corpo, sejam em atividades
esportivas competitivas, de lazer ou mesmo atividades físicas voltadas para o
bem estar e prazer. Aliás, este último, o prazer, merece ainda um grande destaquea
para as nossas reflexões – o que iremos fazer posteriormente
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