No nosso acampamento, depois de 60 km de Porvenir, choveu durante a noite, mas não muito. Porém, fez frio. Como combinamos dos três dormirem no abrigo e eu na barraca, deu espaço suficiente para uma boa acomodação, tanto para Alex, Del e Raffaello, quanto para mim (na barraca). Decisão acertada!
O temor a noite foi com a raposa. Não sei se verdade, mais Del disse que havia uma rondando minha barraca, como já havia falado anteriormente.
Naquele acampamento, o amanhecer no austral foi o verdadeiro astral ! O sol nascendo entre montanhas e o mar de fundo compunham um quadro sensacional, deixando todos muito inspirados para enfrentar os 90 km que nos aguardavam, sem contar a cansativa estrada de ripio.
Para nos dar "sustância", o café da manhã foi caprichado e delicioso. Rolou um café com leite, cuscuz, ovos, queijo e pão. Tudo feito pelo mestre cuca Alex.
A vida simples que vivemos nessa aventura revela o essencial da vida. E uma pergunta que não cessa é "o por que topamos viver tudo isso?". De modo geral as nossas respostas giram em torno de buscar a simplicidade da vida, da essência das coisas, do contato com a natureza, de entendermos que não precisamos de muito para sermos felizes.
O dia prometia. Havia sol, com poucas nuvens e sem vento. Tínhamos 90 km pela frente de ripio, entre subidas e descidas - e isto deveria ser falado, repetido, para entendermos bem claramente o que haveríamos de enfrentar.
E por falar em enfrentar, achava o máximo o modo como meus parceiros encaravam seus pedais. Eu sempre ficava impressionado com a capacidade de pedalar dos meninos. Raffaello, Del e Alex bailavam ao pedalar. Era mesmo muito bonito ficar olhando eles desviarem das pedras, entrarem nas curvas.. era mesmo como se estivessem dançando.
Um outro ponto interessante eram nossas conversas com os bichos na estrada. Não era coisa de doido não, era mesmo curtição. As lhamas, por exemplo, sempre muito curiosas, quando passávamos, emitiam sons. E a gente, para brincar, ficava "boiando" elas. Então os guanacos (lhama), disparavam! Tudo isso era muito divertido e até ajuda a gente a esquecer dos desafios.
Nesta pedalada percebi também que minha performance melhorou, em parte por ter criado mais o hábito. Entretanto, preciso resolver a questão da mesa (colocar uma regulável) e ter um bar end maior (estou forçando muito as mãos e braços). Por enquanto vou levando com o sacrifício. Por exemplo, a cada 10 km tinha que dar uma paradinha porque minha mão adormecia. Na verdade, todas essas adversidades fazem parte da aventura. O importante é ter calma, paciência e foco, sobretudo em uma viagem de longa duração. Aquela frase que diz "estrada longa, passos lentos" é a mais pura verdade. Não adianta se afobar. E por falar nisso, em uma pegada como essas a pessoa pode entrar em desespero se não tomar a calma suficiente devido ao tamanho do deserto e a longa estrada. Falo isso por experiência própria. Por muitas vezes me percebia iniciando uma ansiedade (que pode levar ao desespero) ao pensar no que teria que pedalar ainda e se seria capaz. Esse tipo de pensamento, que eu tinha, só fazia piorar a situação.
Uma estratégia que desenvolvi foi olhar para frente e ter uma ideia do percurso. Depois focar na estrada (sem me preocupar se faltava muito para chegar na curva ou na ladeira, por exemplo). Focar foi a palavra chave.
Apesar de todos esses entendimentos e estratégias, não dirimia a péssima qualidade da estrada nesse trecho. O ripio era casca grossa e com muita "costela de vaca". Não tinha como desviar e como avançar muito. Para piorar, a estrada era muito movimentada, com muitos caminhões e carretas. Tínhamos que redobrar os cuidados.
Felizmente chegamos bem em
San Sebastian (por volta das 17h30). Cansados, aceitamos a primeira Hosteria que encontramos. Comemos e fomos dormir.
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