quarta-feira, 25 de março de 2015

O quinto dia de pedalada

Saímos de Puerto Natales em direção a Punta Arenas. 250 km nos esperava. Sabíamos que não daria para fazer em apenas uma puxada. A sugestão foi acampar em um lugarzinho chamado Morro Chico. Na verdade esse lugar, ao lado de um morrinho que dá nome, se resume em um posto policial, um boteco (que estava fechada) e umas casas e galpões abandonados.

A largada de Puerto Natales se deu as 9h30 e foi acompanhada de ansiedade e expectativa de alguns em conseguir ou não, pelo menos era isso que Chico e eu sentíamos (isto por causa da nossa desistência na terceira pedalada). 

O dia havia amanhecido com muita neblina e isso indicara um sinal, pois seria um dia de pouco vento e menos frio. Na verdade, todo o pedal foi, do ponto de vista climatológico, muito bom. Não tinha vento e fez até calor (possivelmente 18 a 20 graus).

A estrada (fizemos esse pedal no asfalto, "ruta 9") era basicamente plano, com subidas e descidas suaves. O que pegou mesmo foi o cansaço acumulado da viagem.

Um primeiro grupo partiu na frente e um outro formado por Nilo, Rafaelo, Arestides, Chico e eu, pedalavam no fundão. Nilo e Rafaelo adiantaram um pouquinho. Arestides sentiu a pegada (apesar de pedalar muito bem, sentiu as seqüências de pedais e a bike muito pesada com a carga). Conseguiu carona e foi para Punta Atenas nos aguardar.

O acampamento transcorreu bem e fomos nos recolher cedo, pois o outro dia seria, nas palavras de Del, Nilo e Alex, "doideira", "só vem quem tem negócio" e "sinistro", respectivamente.

Ao estarmos nas nossas barracas, procurávamos descansar para os 150km que nos esperavam. Ao mesmo tempo, colocávamos nossas cabeças  nos sacos de dormir e refletíamos sobre as nossas histórias. Afinal, cada um de nós, nessa aventura, tinha suas histórias, seus dilemas, suas crises, seus limites, suas fraquezas, suas preocupações...

Sobre as minhas histórias, desse dia, teve a ver com o cuidado que tento cultivar. Para essas viagem alguns dos meus entes recomendou que eu buscasse o cuidado. Isto me remete a pensar o quanto, algumas vezes, sou negligente comigo. Será que tem a ver com a pulsão de morte, na visão psicanalíticas? De toda sorte, nessa viagem tenho optado por me cuidar e estar vivo. 

Uma outra coisa das minhas histórias é p quanto eu (e também as pessoas em geral) carregam e guardam coisas desnecessárias. Guardar coisas desnecessárias (coisas matérias e subjetivas) faz com que a vida fique pesada. 
Fiquei pensando sobre isso depois de ler uma passagem do livro Diário de uma bicicleta, mas também porque terminei trazendo algumas coisas desnecessárias, como roupas demais, o que tornou a carga da bike muito pesada. E isto rola na vida da gente em termos subjetivos também. O quanto carregamos coisas desnecessárias para a nossa vida? O quanto carregamos raiva, magoa, culpa...? Acho que uma boa pergunta é se temos reais necessidades dessas coisas. Se não temos (e provavelmente não a temos) porque carregamos?' Com certeza nossas vidas ficam, desnecessariamente, pesadas. 
Minha lição: da próxima vez levarei menos roupas. 
Todos dormiram em paz naquela noite ao som de Bob Marley, "concrete jungle", uma cortesia do Chico.





7 comentários:

  1. Muito boa reflexão sobre a vida. Em momentos assim conseguimos para e ver a vida por outro prisma. Todos deveriam experimentar sensações como essa. Bom sorte Pé de serra. Na proxima estarei ai.

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  2. Muito boa reflexão sobre a vida. Em momentos assim conseguimos para e ver a vida por outro prisma. Todos deveriam experimentar sensações como essa. Bom sorte Pé de serra. Na proxima estarei ai.

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  3. Maravilha suas "crônicas". Lição de vida. Estou aprendendo com dus experiência, pois o que vc escreveu sobre coisas desnecessárias que acumulamos nis leva a uma reflexão.
    Boa sorte Marcelo Ribeiro. Sucesso para todos.
    Avante!

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  4. É isso aí; só devemos acumular mesmo experiências positivas e coisas que ampliam o nosso ser, não nos podem ser tiradas. 👍👍👍

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  5. Quero agradecer ao primeiro Marcos e aos demais que postaram nesta publicação. Foi uma experiência muito enriquecedora! Incrível mesmo!

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