sexta-feira, 5 de agosto de 2016

quarta-feira, 29 de junho de 2016

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Experiências de religiosidade/místicas O Caso Chico




 Essa viagem da Estrada Real foi, pelo menos para mim, muito significativa do ponto de vista das experiências de religiosidade. Isso significa dizer que que vivi experiências de transcendência, de resignificações existenciais e mesmo uma abertura para a vida via uma racionalidade mística, uma racionalidade transcendente. 


De modo particular e sobre essas experiências, gostaria de narrar a leitura feita por uma companheira, a Giovana, a propósito do acidente ocorrido com o parceiro Chico. 

Quando decidimos sair de Casa Grande, pegamos uma estrada (na verdade descobrimos depois que estávamos em um caminho errado) de barro, com muitas descidas e subidas íngremes, e que daria (sem sabermos) na temível BR 040. E pela distância e nosso ritmo, certamente cairíamos na BR à noite, o que seria deveras temerário.

Graças a fatalidade de Chico tivemos que voltar e reorganizar nosso itinerário, pegando, dessa vez, o caminho correto, ou pelo menos o mais prudente.

O acidente de Chico teria nos livrado de algo pior? Teria sido Chico o nosso Guia (na verdade Chico geralmente assume esse papel de Guia e cuidador do grupo)? Chico teria se “doado” para salvar o grupo? Houve uma “intervenção” divina nessa história?


Bem, essa é uma leitura mística, que foge, com certeza, a racionalidade técnica e a lógica científica tradicional. Mas por que não abrir a possibilidade para “ler” a realidade via as experiências de religiosidade ou místicas?

Vivendo, pensando... e pedalando.







Conhecendo o nosso país

 Para quem já teve a oportunidade de fazer esse percurso da Estrada Real pode confirmar a rica e agradável experiência cultural, histórica e, claro, as maravilhas das florestas, dos morros, das flores, dos bichos e das águas.

Também é possível constatar o quanto o Brasil já produziu riquezas e continua a produzir. Vivemos os grandes ciclos, desde o Pau Brasil, passando pela cana de açúcar, ouro, café e agora petróleo e toda a capacidade agrícola do país. 

Produzimos tanta riqueza que fomos capazes de enriquecer muitos outros países e, mesmo assim, temos ainda chances de oferecermos uma melhor qualidade de vida para os nossos. 

A Estrada Real é mais um testemunho dessa capacidade do país de gerar riquezas, no caso, o ouro.  A despeito da sangria que houve desse minério por mais de um século,  dá para notar, pelas migalhas que ficaram, a monstruosa produção e o reboliço que deve ter sido, à época, com a economia extrativista, de caráter colonial. 

No meio da viagem e passando pelas dezenas de vilas que pontuam a Estrada Real, me lembrei do livro de Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina. Quem não leio ainda, recomendo fortemente (pode ser baixado em http://lelivros.black/book/download-as-veias-abertas-da-america-latina-eduardo-galeano-em-epub-mobi-e-pdf/). É uma leitura que nos ajudar a entender as razões de um continente tão rico (América Latina), mas ao mesmo tempo com enormes desafios no que diz respeito a distribuição de riquezas e as  injustiças sociais. Como explicar, por exemplo, o Brasil, sendo um país tão rico e capaz de produzir absurdamente riquezas durantes séculos, mas ao mesmo tempo, viver situações tão miseráveis? Será que é por causa da enorme quantidade populacional? Mas nem sempre foi assim! Será que a corrupção endógena é suficiente para explicar? Haveria uma lógica maior que coloca países como o Brasil sempre numa relação de dependência? Será que saímos realmente da condição de colônia, que tinha por obrigação gerar riquezas e matérias primas?


Vivendo, pensando....e pedalando...




quinta-feira, 16 de junho de 2016

O que significa uma viagem dessas? Qual o sentido? O que significa a Estrada Real?

Estas perguntas foram lançadas aos "doze profetas", aos doze ciclistas, e muitas respostas foram produzidas. 

Obviamente, as respostas remetem a perspectiva de cada um dos ciclistas, de cada um dos aventureiros. Alguns trazem o significado de recolhimento, relação, oportunidade de estar com o outro ou simplesmente o prazer de viajar de bicicleta.

Da minha parte, como sempre tenho dito, uma viagem como esta não é uma curtição (embora possa ter muito prazer) e não é, muito menos, uma simples viagem. 

Para quem nunca fez um pedal desse tipo é bom saber que existem muito mais durezas do que amenidades, muito mais sacrifícios do que regozijos… Só para ter uma ideia é comum dormir com a roupa suja (às vezes a gente usa a cueca do verso ao reverso sem lavar!), acampar ao relento (em coretos ou ginásios também), comer pão seco o dia inteiro, passar frio, sede... E quando o sacrifício e dor são grandes é normal que a gente se pergunte: "o que mesmo estou fazendo aqui!?".

Porém, tudo isso parece valer a pena quando conseguimos enxergar os nossos sentidos depositados nesses pedais. 

Como ia dizendo, para mim, um pedal desses tem um significado de transcendência, de religiosidade até. É também uma oportunidade de ressignificação da minha existência, de reconhecimentos, de experiências incríveis...

Muitas vezes a gente paga caro por isso! Eu mesmo paguei muito caro. Não falo só em termos financeiros, mas falo também em termos afetivos. As pessoas dificilmente vão entender essa experiência, o sentido dessa experiência. É possível que chamem a gente de maluco, de "não ter o que fazer"... Ou então podem dizer, a mulher ou o marido: "eu não entendo você! Por que se distanciar para reafirmar a relação!?". O custo, os resgates podem ser grandes. 

Mas voltando aos significados e sentidos das respostas produzidas, seguem aqui fragmentos e também áudios de alguns dos nossos companheiros:

Estrada real  é coisa de louco.
Estrada Real é ficar sem dinheiro (Gemeos).

Estrada Real é *amizade*que não tem preço!
É tipo brincadeira de criança... 
Estrada Real significa flores pelo caminho... 
É fazer oração.
Estrada Real é pedir licença à natureza... 
(Arquilene).

Estrada Real significa marcas no corpo. É acessórios que quebram e provocam acidentes (Chico).

Estrada Real é tromba (Paulo).


 Curta agora alguns dos áudios e sinta um pouquinho do foi esse pedal... Quem sabe você se empolga e saia do normal!

Clic aqui neste link:

Estrada Real

terça-feira, 14 de junho de 2016

Pedalar tem a ver com a energia do amor.

A cada pedalada que nós damos, que colocamos força, vem acompanhada da intenção de algo, mesmo que seja a intenção de chegar em algum lugar, de vencer o obstáculo ou de subir uma imensa ladeira. Essa força, inerente ao pedal, mesmo aqueles mais triviais e prosaicos, atrai, junta, quer algo, é desejante, pois almeja. 

A força do amor, no caso, tem em sua natureza a agregação, a comunhão, o querer estar junto na com-paixao. 

Pedal, portanto, é uma força que tem a ver com o amor. Porém, o amor não é pleno na incoerência, na metade, na parcialidade. Ou se ama ou não se ama.  No meu caso a incoerência me faz mal e o amor me ajuda no processo de inteireza e vice versa. 

Pedalar é para mim uma busca, ou melhor, a possibilidade de viver a intenção da força desejante que requer um ser inteiro e se realiza no amor.


Despeito regional?

Em um dos trechos desse pedal, acho que era de Mont Serrat a Petrópolis, conversava com Nilo sobre a infra estrutura rodoviária no Brasil e o quanto é diferente, sobretudo quando a gente compara as regiões. Por exemplo: na região Sudeste há mais rodovias duplicadas e bem cuidadas. O que não acontece com a região Nordeste.

Nilo então retrucou dizendo que agora não é mais assim. Que a região Nordeste recebeu muitos investimentos e que há muitas rodoviárias ou trechos duplicados e com boa infra. E é verdade!

Isso me fez pensar as transformações que a região Nordeste sofreu nesses últimos 15 anos e que o período Lula (e Dilma também) foi importante para equilibrar melhor a distribuição dos recursos e investimentos. Afinal, o Brasil ainda é um país extremamente desigual, inclusive do ponto de vista regional!

Daí, nas infinitas subidas e descidas suaves da BR 040 fiquei a me perguntar : será que isso causou algum tipo de despeito regional para com o governo Lula (e Dilma por tabela)?






sábado, 11 de junho de 2016

Valeu Bel

O Bel, um cara boa praça, com seus cinquenta e poucos anos, que sabe chegar e sair, é amigo de todos. Bel, mesmo pedalando em uma velocidade menor que muitos outros do grupo, teve uma performance muito boa nesse pedal, inclusive reconhecido pelos colegas. Até aí nada de mais. A questão é que Bel contrariou todas as recomendações médicas e familiares. Tendo um problema cardíaco e forte recomendação de ser submetido a uma cirurgia,  Bel assumiu esse pedal e foi acolhido pelo grupo. Esse gesto do Bel de  encarar o desafio da Estrada Real de modo tranquilo e sempre com humor foi um exemplo para todos no sentido do quanto vale a pena viver e do quanto a gana pela vida está para além das aparências. Valeu Bel! 


Fluxos e refluxos

Os 12 ciclistas que seguiram viagem viveram momentos de muitas alegrias, mas também de conflitos. Afinal a vida com o outro demanda saber lidar com o diferente. E nesse processo havia uma "dança" de se afastar e se unir, de se abraçar e querer distâncias. De maneira semelhante, o próprio o movimento (ou a dança) do pedal era isso, por vezes pedalávamos juntos a conversar, por vezes em silêncio, cada um na sua. O fluxo e o refluxo do pedal dava o equilíbrio necessário para que todos pudessem percorrer seus caminhos, alcançar suas chegadas, fazer a estrada.

Acidentes acontecem

Infelizmente tivemos uma situação de acidente no grupo. Chico caiu em uma descida, na curva. O susto foi grande, mas nada grave. Sofreu fratura em um dos ossos da face. Tudo indica que foi a garrafa d'Água que ele havia adaptado no garfo da bike. O suporte da garrafa quebrou e com a trepidação, a garrafa d'Água escorregou entre o garfo e o pneu, fazendo com travasse a dianteira e ele perdesse controle, caindo com o rosto no chão.
Momento de tensão. Rapidamente tivemos socorro, botamos todas as bikes em uma caçamba e voltamos para Casa Grande - MG. Um dia de espera para Chico sair do hospital. Ele retornou para casa, na verdade para o Rio de Janeiro, ficando com os filhos. E como diz uma amiga: "Na trilha como na vida... Alguns vão ficando pelo caminho..."
Despedimo-nos saudosamente do Chico e seguimos. No seu adeus, o amigo disse: "pedalem por mim! Rasguem o mapa!"



sexta-feira, 10 de junho de 2016

Pedalando e lendo

Foi uma experiência enriquecedora fazer esse pedal e terminar a leitura do livro "A aldeia do tempo", do amigo Gênesis Naum. De uma maneira extraordinária o autor nos leva a sentir um pouco o foi viver naqueles tempos do século XVIII na região das Minas Gerais... E nada mais bacana do que ler esse livro, viver e pedalar na Estrada Real...

Segue aqui um trecho (final) que muito me tocou... E que fala do destino do protagonista do livro:

"Em minha vida fui sempre o fracasso da glória de quem se inspira... (...).ao morrer, caros amigos, quero ser ungido com piedade, pois que sou a trama cinzenta dos loucos, envolto nos laços do tempo a sonhar com os breus profanos da noite. E quando a minha idosa roupagem sucumbir aos ermos distantes, não esqueçam de lavrar-me com piedosa caridade dizendo: aqui dorme um almirante do destino no que precisou descansar sua eternidade franciscana..." (Farias, 2014, p. 128).

FARIAS, Gênesis Naum de. A aldeia do tempo. Uma introdução amorosa aos lugares de memória da Vila Rica de Ouro Petro. São Paulo: Scortecci, 2014.


Com leveza a vida é melhor

Realmente é difícil para mim aprender o que é necessário ou não levar em um pedal desses. Certamente eu devo aprender com Giovana, que teve como lição aprender a viver com o essencial. 

Mesmo sabendo que nos trechos percorridos haveria muitas vilas e cidades, terminei levando um monte de tranqueira desnecessária, culminando em excesso de bagagem. Levei barraca (que terminei não usando), roupas demais, pneu sobressalente, duas câmaras, etc. Resultado: o bagageiro não aguentou e quase fiquei na mão.

Quando chegamos em Juiz de Fora fiz uma revisão na Bike, consertando o bagageiro. Por sorte Bel e Giovana resolveram pegar um transporte e nos aguardar em Petrópolis, o que me permitiu desvencilhar do mala bike, barraca e manta térmica - diminuído o peso que carregava.

Daí em diante o pedal foi outra história e o desempenho muito mais aproveitável.

Lição da história: quando a gente está leve curte mais a viagem (da vida).

Ainda sobre isso Arquilene nos lega suas histórias e sabedorias:

"Para mim foi ainda viver um dia de cada vez, e bem vivido! Apenas com o que eu tinha perna para carregar!
Quero na próxima levar menos ainda e aproveitar mais! 
Eu vivia cada dia pensando que logo ia acabar a viagem. Dizia para mim mesma: só faltam tantos dias, tenho que concentrar nesse para vivê-lo o máximo que puder!
Mesmo assim, ainda acho que não vivi o suficiente o dia em questão, porque não lembro todos os segundos dele. 
Pense num sofrimento gostoso que foi pedalar nessa Estrada!"




História é para viajar

História é para viajar! Viajando a gente aprende de um modo mais gostoso, além de aprender na experiência da viagem!

A mecânica do corpo e a consciência corporal

 O ciclismo enquanto prática esportiva é algo muito complexo porque, além de envolver uma série de modalidades, é também um meio de transporte e uma forma de sociabilização. Mas como toda prática esportiva pode proporcionar uma melhor qualidade de vida, sobretudo porque tem relação com a dimensão corporal.
Uma das primeiras coisas a desenvolver no ciclismo, de um modo geral e, em particular, num pedal como esses, que implica longa distâncias, é o condicionamento físico. A partir daí a pessoa pode encontrar o seu ritmo e pedalar todo o percurso no seu condicionamento, respeitando os seus limites e formas de pedalar (a velocidade, a potência em cada pedalada, o tempo das paradas, etc.).
Essa mecânica é muito importante e uma base fundamental, mas não é suficiente se não for acompanhada por uma consciência corporal -até mesmo porque o aprendizado do condicionamento se dá por uma sensibilidade e conhecimento vivido do corpo, ou seja, a própria consciência corporal.
Nesses pedais de cicloturismo - aventura, que a pessoa pedala muito e durante vários dias é comum sentir fadiga física (além da fadiga psicológica). Essas fadigas, ou melhor, aquela dorzinha de um lado ou outro, deve ser logo percebida e interpretada no sentido da pessoa avaliar os limites dos desgastes corporais, de uma postura inadequada e buscar a simetria dos movimentos além de analisar a situação do próprio desgaste.
No meu caso, depois do quarto dia de pedal meu tendão de Aquiles, do lado direito, começou a doer muito, o que me obrigou a forçar mais as pedaladas usando toda estrutura da perna esquerda (eu sou destro). Passei quase todo o pedal desse jeito. Apesar dos incômodos provocados pela dor foi uma experiência muito interessante, pois ao demandar mais do meu lado esquerdo, do que eu era habituado, pude desenvolver melhor meu condicionamento, mas também ampliar minha consciência corporal sobre meu corpo. Ao pedalar forçando o meu lado esquerdo me exigiu que a percepção fosse, todo o tempo, dirigida para o corpo, justamente porque essa qualidade do movimento não estava rotinizada - no automático do movimento.





Entre o imaginado e o real

Ao se preparar para uma viagem como essa a pessoa normalmente procurar se informar, se interditar das experiência dos outros e partir daí ter uma ideia, imaginar como será e o que poderá encontrar no pedal.
Mas uma coisa é você imaginar que Estrada Real é cheia de subidas e descidas íngremes (descidas essas que, muitas vezes, a pessoa não pode soltar o freio), outra coisa é viver a Estrada Real em sua plenitude, ou seja, na real.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Subidas e descidas delícias

Pedalar na Estrada Real é como estar em mar cheio de ondas a surfar... A diferença é que: não é mar, são morros e morros; não são ondas , são subidas e descidas e mãos subidas; não é surfe, é força nas pernas e freio nas descidas.

Os primeiros dias são mais pancadas e a pessoa sempre fica com a vã expectativa de, em algum momento, as ladeiras vão findar. Mas como diz Nilo, no quarto dia todos se acostumam e as ladeiras passam a ser normal e os planos é que são esquisitos. Dai em diante subidas e descidas passam a ser delícias....



Finalizando o último trecho da Estrada Real

Por Del (Adeildo Alexandre Santos Santos)

Terminamos o último trecho da Estrada Real em Minas Gerais. Fizemos: 
1) Ouro Preto/Parati, 610 km
2) Diamantina/Ouro Preto, 458 km
3) Cocais/Petrópolis, 676 km. 

Quero agradecer a companhia dos amigos Bike Suja Alma Lavada (Alex), Paulo Pinto, Nilo Borba, Paulo Antonio Pessoa Crasto, Gemeos Lima, ArquiLene Cunha, Raffaello Bruno, Francisco Fagundes, Giovana Buarque, Marcelo Ribeiro, Eberth Lôbo, Arestides Porangaba.

Estrada real é: cancelas, ruínas, montanhas, frutas, caminho de pedras, lama, barro, ladeiras, descidas, neblina, frio, cachoeiras, rios, mata virgem, cobras, macacos, asfalto, café, pão de queijo, pontes, igrejas, animais silvestre, chuva, sol, cansaço, suor, lobo guará, mata burro, linha do trem, trem, túnel, casa emprestada, coreto, ginásio, trilhas fechadas para bike, trak, singletrak, off-road, carrapicho, carrapato,espinhos, quati, ponte de madeira. 

Ficam agora lembranças e saudades!! 
Tinha até o Jason!!

Obs. Cada um desses trechos foi feito em períodos distintos e nem todos os integrantes fizeram todos os trechos.




quarta-feira, 8 de junho de 2016

Chegando ao Rio de Janeiro




Durante quase todo nosso percurso fizemos a Estrada Real, quer dizer, trilhas e ou trechos vicinais. Entretanto, pegamos partes de asfalto, BR, especificamente a BR 040.

Quando estávamos na O40, já no estado do RJ, algumas situações, em relação ao comportamento dos motoristas, nos chamaram atenção.

Enquanto Paulo, Nilo e eu pedalávamos no acostamento, passou um caminhão baú e o carona perguntou:
- Quer carona?

Respondemos: 
- Não, obrigado!

O carona replicou:
- Então vão tomar no cu!

Já muito cansados, paramos em um ponto de ônibus para fazermos um lanche e descansarmos. Nilo e Paulo deitaram no banco. Esse ponto era bem na subida e numa curva, de modo que os carros passavam devagar, além da possibilidade de enxergar quem estava no ponto.

Uma carreta passou e buzinou bem no ouvido dos caras.

Mas também foi chegando ao Rio de Janeiro que recebemos mais cumprimentos dos motoristas. Até o corpo de bombeiros ligou a sirene para nos cumprimentar!

É claro que isso poderia acontecer, em
relação aos tratos negativos, em qualquer lugar e que no Rio existem pessoas muito cordiais. Além disso, gosto muito do Rio. Mas que esses acontecimentos parecem ser típicos, ah isso parecem! Ou seja, essa receptividade acalorada misturada com grosseria.

Experiência de transcendência

 
Boa parte das arquiteturas de templos religiosos conduzem a uma experiência, corporal, inclusive, de transcendência, eu diria. O olhar para cima a reverenciar a abóbada, a cruz, as pinturas gravadas no teto, etc., sem a adoração, é uma experiência de elevação. 
Ao olhar para aquela igreja de Congonhas - MG, por exemplo, no topo do morro, ou ao mirar a cruz lá de cima, vivi uma experiência de transcendência. A mensagem que me veio foi da fé que transporta, que conduz e eleva, fazendo a crença de que é possível alcançar o que é, inicialmente, inalcançável, mas ao mesmo tempo proporcionando uma experiência de reverência e respeito, ao me fazer olhar para cima, pois o céu infinito, como cenário de fundo da igreja, para mim, naquela experiência, expressava Deus. Ao olhar para cima, ao inclinar minha cabeça para o alto, dei-me conta do quanto devo voltar também para mim. E daí, na vivência do meu corpo, inclinei a cabeça para baixo. Vivendo o respeito, mas também a interioridade e os soslaios da expressão divina. 

Ética de Del



Sem dúvida a ética é algo que nos faz humanos, ou seja, que possibilita o melhor da nossa humanidade. É claro que existem várias éticas e muitas podem ser até destrutivas, mas quero me referir a "Ética do Amor", como fala o Papo Francisco, ou mais especificamente, a ética da solidariedade. Acho que é a ética que dá a "liga" a humanidade, aos grupos humanos.

E por falar em grupo, o nosso é bem diverso, existindo várias tensões e, algumas vezes, confusões. Já vi brigas feias... Mas há algo no grupo que mantém o grupo. Penso que seja, além da identificacao com a modalidade  praticada e a paixão por bikes, é a questão da ética vivida no processo do grupo. Um exemplo disso é o gesto de Del. Ele, neste pedal, acompanhou a galera atrás, quase todo o tempo. Mesmo sendo um dos melhores no pedal e trazendo uma fadiga afinal (pois estava pedalando fora do seu ritmo).

Nossos rios estão morrendo



Durante esses dias de pedais a natureza expressa em seus morros, matas, rios e cachoeiras foi uma constante. Particularmente fiquei impressionado com a quantidade de rios, riachos, córregos naturais... Apesar de toda a exuberância ainda existente, outra coisa que me chamou atenção foi a degradação dessas expressões da natureza, sobretudo os rios, riachos...

Cuidamos tão pouco dos nossos rios. Estamos jogando fora o nosso futuro, a nossa riqueza.
Nossas políticas públicas são pouco inteligentes uma vez que não garantem um futuro sustentável e, consequentemente, um futuro com melhor qualidade de vida.
Sobre esse urgente e angustiante assunto deixo aqui um link que remete a coluna do Gogó, um grande ambientalista que fala, dentre outras coisas, dos nossos rios.

"Estamos presos há quase dois anos pelo processo de golpe à democracia instaurado no Brasil. Nesse período discutimos fartamente a monumental hipocrisia da corrupção e ficamos proibidos de discutir questões fundamentais que afetam a vida de toda a população brasileira".

Leia mais....  
https://tovinhoregis.wordpress.com/2016/06/07/proibidos-de-discutir-o-brasil/

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Tiradas II

Papo cabeça entre Bel e Arquilene:

Bel: 
- A Estrada Real é real!

Arquilene:
- Não é de mentirinha não!

O começo

começo desses pedais, que tem uma característica bem particular, porque é uma mistura de cicloturismo com montain bike e outras modalidades de "bike aventura", se deu em Maceió, na interação de amigos ciclistas.

Esse trecho da Estrada Real (Caminho Novo) é o último trecho para uma boa parte do grupo.

A composição do grupo para o Caminho Novo foi formada por: Arestides, Bel, Del, Paulo, Giovana, Gemeos, Arquilene, Nilo, Raffaello, Alex, Chico e eu (Marcelo).

No primeiro momento, em um pequeno trecho, teve ainda a participação de Paulo Pinto, que aproveitou a viagem para fuçar com familiares em Belo Horizonte.

Então o grupo que assumiu o pedal foi composto por 12 ciclistas aventureiros, que foram logo apelidados dos 12 profetas (eu fui o último a me juntar ao grupo, depois de uma semana de pedal).

A ideia dos 12 profetas não foi nenhuma heresia, até mesmo porque ninguém teve a pretensão de se colocar nesse lugar, mas apenas fazer referência aos 12 profetas esculpidos por Aleijadinho e associar com as buscas pessoais ou os sentidos e significados que cada um atribuiu ao pedal.

Infelizmente houve um acidente com o Chico e o grupo teve a primeira baixa. Alguns dias depois Aristides precisou partir. O grupo ficou com 10 ciclistas. Apesar das fatalidades ou das intercorrências ou mesmo das fragmentações, o grupo sempre se manteve conectado (em vários trechos o grupo se dividia; em momentos uns avançavam de caminhão alugado para o destino seguinte ou iam fazer passeios pelas redondezas).

domingo, 5 de junho de 2016

Jeito hospitaleiro do mineiro

O
Uma das marcas dessa viagem, sem dúvida, é a hospitalidade do povo mineiro. Um povo normalmente de fala baixa, manda, jeito observador, com sorriso na boca, de bem humor e muito prestativo.
Os nossos agradecimentos a todos os mineiros que nos receberam super bem!

Em particular, destacamos:
Marcelo Resende e toda a sua família (e ao parceiro de bike Marcos Paulo, com certeza um garoto de sucesso!). Marcelo Resende que soube fazer a escolha certa e há 32 largou a carreira de bancário para viver no paraíso. Como ele mesmo disse: "nem tudo é dinheiro".

Ao Dante (que conseguiu o ginásio da cidade de Carandaí para gente dormir). Dante, que é também ciclista e super querido na cidade. A gurizada toda conhece ele. Parece que é um
tipo de ídolo.

Ao Fabiano, da cidade de Santos Dumont, que trabalha na Prefeitura e articulou a nossa dormida no ginásio. Com certeza, Fabiano, estamos muito gratos e com ótima impressão.

Ao Fernandes, que nos acompanhou e nos protegeu na chegada de Juiz de Fora. Um cara super simpático. 

É claro que muitas outras pessoas nos ajudaram e foram maravilhosas conosco... 

Representação social da Estrada Real

Sobre a representação social desse pedal, sobretudo na parte mineira da Estrada Real e se fizéssemos uma associação livre, eis o que surgiria para representar a estrada real: 

Ladeira, morro, "morrim", serra, subida, descida, barro, pedra, lama, trilha, neblina, subida, frio, chuva, sol, mata, rio, riacho, ponte, fazenda, gado, flores, plantação, sítio, granja, trilho, trem, vilarejo, igreja, religiosidade, café, pãozinho de queijo, torresmo, cachaça, hospitalidade, silêncio, barulhinho bom das folhas, da água, das engrenagens e mais subida...

Essa associação livre começou com uma brincadeira inventiva do Del. Só podia!

Nem tudo são flores, mas elas estão em muitas partes...