terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Sobre regras e aprendizagens no trânsito

Sem dúvidas andar de bike nas ruas de uma cidade é uma experiência inovadora. Falo isto porque uma coisa é você circular de ônibus ou de carro e outra é de bike, pelo menos em termos de perspectiva, de conhecer a cidade sob outros prismas... A gente passa a ver coisas que não viria se estivesse de carro e experimenta a cidade de um jeito novo, diferente. 
E essas experiências novas remetem até mesmo a questão do trânsito, das regras do trânsito, ao respeito para com os demais e também como o ciclista é ou não respeitado.
Sobre esse ponto de respeitar e ser respeitado gostaria de dizer que aprendi o quanto é importante que o ciclista não só lute por seus diretos e que se faça respeitado no trânsito, mas que também ele, o ciclista, lute para o respeito, respeitando as regras de condução e de convívio no trânsito.
Nesse sentido, destaco algumas coisas muito simples, mas que são fundamentais para o bom exemplo:
- não andar na contra mão (menos sempre que possível);
- respeitar a sinalização dos semáforos (usando o bom senso, é claro);
- entender que o ciclista não é a parte mais vulnerável - existe o pedestre, por exemplo!
- saber esperar alguém que está na frente, ter paciência e não reproduzir, na bike, as loucuras do volante;
- e acima de tudo, curtir o percurso;

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Fotos em pedal: flagras "de-espero"

Eis aqui alguns flagras registrados hoje quando pedalava em direção ao Cais do Remanso Velho (cidade tragicamente inundada pelo ambicioso projeto hidroelétrico da CHESF, quando construiu o Lago do Sobradinho - até pouco tempo atrás, o maior lago artificial, em espelho d'água, do mundo - não que devamos ter orgulho disso, mas que possamos refletir...)
O que me chama atenção é vastidão do nada que emerge. Ao chegar na beira do cais, a ventania me balançava e lançava areia, me impedindo de enxergar direito. Fiquei a meditar sobre aquele deserto... Será esse o destino disso tudo? Será aqui o começo da cova do Velho Chico? 
Ainda no pedal, via os carros pipas passando... uma trava do cano de água aparentemente sem uso e um novilho morto, apodrecido e sendo comido por outros bichos. 
Via ainda caminhões pipas passando para um lado e outro. Dizem que a despesa com o combustível está altíssima para a prefeitura (não só em relação aos caminhões, mas também no que diz respeito a bomba que draga água, cada vez mais longe, para abastecer a cidade de Remanso).
Uma garrafa plástica de água mineral na beira da estrada me chamou atenção. A água presa, engarrafada, pura, límpida, mas presa, não disponível... Um anúncio, um sinal, do comércio da água? Um alerta do que estar por vir, ou seja, a privatização desse bem humano?
Ao lado de tamanha "devastação" havia traços do nosso tempo: lixo. Lixo em plásticos, em sacos, embalagens coloridas e cintilantes, mesmo que já desbotadas pela ação do sol, revelam o modus operandi de uma civilização. Fico a imaginar cientistas arqueólogos desvendado os segredos do nosso tempo ao reencontrar tais vestígios a mil anos lá frente. O que diriam? Como nos avaliariam? O que pensariam do nosso modo de vida?
Flagras de morte, de réstias de vida resistindo, de desesperos, de espero, de esperanças.. quiçá! Teremos ainda tempo?






























terça-feira, 18 de agosto de 2015

Ação para não ciclistas (by bike anjo)

O Bike Anjo vem sempre buscando novas formas de mobilizar mais pessoas por meio da bicicleta e no nosso 1º Encontro Nacional do Bike Anjo em 2014 (ENBA-2014) surgiu a ideia de fazermos uma ação direcionada a um público para o qual o Bike Anjo geralmente não faz ações diretas, que denominamos de “não-ciclistas”. São motoristas profissionais (de táxi, ônibus, vans e caminhões) ou não e motociclistas que, apesar de toda sensibilização sobre o uso e a qualidade da bicicleta como meio de transporte não podem/conseguem usá-la como meio de transporte.
A segurança de quem pedala tem relação direta com quão visível para os motoristas essa pessoa é. No entanto, as pessoas que não estão com o pensamento conectado de alguma forma com o uso da bicicleta tendem a não “enxergar” as bicicletas nas ruas. Isso é um fato, que inclusive já foi objeto de diversos estudos na área da psicologia. As pessoas tendem a ignorar inconscientemente tudo que não está relacionado de alguma forma com a sua realidade. É muito comum as pessoas que decidiram começar a pedalar recentemente relatem que antes “nunca tinham percebido como havia tantas bicicletas nas ruas”. Também é comum nos casos de acidentes envolvendo veículos motorizados e bicicletas os motoristas afirmem que não viram a bicicleta.
Essa ação tem a intenção de, mostrar a esse motorista “não ciclista” que o usuário de bicicleta pode e deve estar nas ruas, de tornar o ciclista visível aos olhos desse público e de mostrar que a nossa presença trás benefícios para toda a cidade inclusive pra ele.
Abaixo podemos listar alguns benefícios do uso intensivo da bicicleta como modal de transporte que podem ser compartilhados também por quem não usa a bicicleta:
 Uma bicicleta na rua pode ser um carro a menos ou uma pessoa a menos usando o modal coletivo de transporte já tão sobrecarregado nas grandes cidades, a bicicleta melhora a mobilidade de todos;
O uso da bicicleta em grande escala como modal de transporte comprovadamente torna as ruas mais seguras para todos, inclusive para os pedestres, quanto maior o número de bicicletas na rua, mais visíveis elas se tornam;
 Cidades com alta taxa de utilização da bicicleta tem uma grande redução de emissão de gases poluentes e com consequente melhoria na qualidade do ar. Em São Paulo, a poluição mata indiretamente vinte pessoas por dia, agravando e acelerando problemas como infarto, acidente vascular cerebral, pneumonia, asma e câncer de pulmão. E 90% das emissões de poluentes em São Paulo é causada pelos veículos automotores;
 A produtividade no trabalho de quem usa a bicicleta como transporte aumenta, em decorrência da melhora do humor e da diminuição do stress. A cabeça tranquila permite um melhor julgamento em situações críticas;
 Quem está de bicicleta não coloca vidas em risco, pois a bicicleta trafega a velocidades mais próximas a escala humana e é mais leve que os outros veículos oferecendo menor risco em caso de acidentes. Já os motorizados são responsáveis por mais de 50 mil mortes e 153 mil internações no SUS por ano no Brasil (número de mortes no trânsito – Mapa da Violência 2013)
– A atividade física regular previne doenças cardíacas e AVCshipertensão, ajuda a controlar o diabetes, aumenta a resistência aeróbica, reduz a obesidade, ativa a musculatura de todo o corpo, diminui a ocorrência de doenças crônicas, faz bem para a saúde do idoso e aumenta o tempo de vida. Todos esses benefícios para a  saúde do usuário desse modal, vão significar um menor uso do SUS ajudando a desafogar o sistema e reduzindo a despesa para os cofres públicos, mais um benefício para toda a sociedade.
Por estas e outras razões, essa campanha proposta se mostra mais que oportuna e tem como objetivo principal produzir conteúdo, materiais e instrumentos que possam ser usados no convencimento dos “não-ciclistas” de que a presença dos ciclistas nas ruas só trás benefícios para toda a cidade e por isso eles não devem ser só respeitados mas a sua presença deve ser estimulada. Esses materiais devem ser um facilitador para que toda a rede Bike Anjo possa replicar essa ação localmente ou para que as empresas que possuem “não-ciclistas” possam ser capacitadas.
http://bikeanjo.org/2015/08/18/acao-para-nao-ciclistas/

terça-feira, 21 de julho de 2015

Bike vida mansa


Por estes tempos tenho curtido a bike de maneira mais slow. Entre uma pedalada e outra aproveito os pequenos passeios pela redondeza, ou melhor, pelas margens do Velho Chico. Então só para dizer um "olá" aos amigos que acompanham este blog, seguem duas fotos e também o anúncio de que, em breve, estarei firme e forte em novas aventuras!






quinta-feira, 14 de maio de 2015

quarta-feira, 29 de abril de 2015

E agora José? Encarando o desafio após o Fim do Mundo


Havia marcado com a “Turma do Pedal” de Juazeiro uma saída para o domingo. Esta seria a primeira vez que iria rodar com o pessoal (na verdade conheci esse pessoal por acaso, ou melhor, uma parte dessa galera quando pedalava para Sobradinho, daí fui adicionado no whatsApp do grupo).

Era domingo e foi combinado o local de saída na cabeceira da Ponte Presidente Dutra (do lado de Juazeiro) por volta das 5h. Cheguei a pensar que não iria rolar e entrei em contato com o parceiro Luciano Ribeiro, que prontamente me convidou para o seu pedal as 6 da matina. Terminei por encontrar os caras da “Turma do Pedal”, agradeci ao Luciano e parti com essa turma (só fiquei meio cabreiro, pois todos estavam com speed, apenas eu e Luiz estávamos de MTB).

Seria um bom pedal após o meu retorno do Fim do Mundo (mais ou menos um mês antes havia percorrido 1100km, de El Calafate à Ushuaia). Realmente estava na fissura de algo desafiador. Iríamos rodar, aproximadamente, 120km, ida e volta, Juazeiro - Sobradinho. Os caras chamaram esse pedal de “volta ao Lago” (uma alusão ao Lago Sobradinho).

Apesar de não estar me sentindo cem por cento, topei a parada. Havia ainda dor no joelho, tive insônia na madruga (acordei as 2h da manhã e não voltei a dormir) e sacava que estava fora de forma. Mesmo assim, como acabei de dizer, topei a parada.

Logo de cara, por volta dos 30km, senti câimbras nas pernas. Diminui a velocidade e joguei a marcha a níveis mais lentos. Percebi também que naquele grupo havia algo que se repetia em outros grupos de bikes, ou seja, o cuidado e a acolhida com os seus membros, mesmo os novatos.  Tanto o Luís, quanto o Dedé (o mais velho do grupo e, segundo a galera, o “mestre”) estavam sempre ao meu lado e perguntando como eu me sentia.

Essa atenção e cuidado ainda merecem melhores e maiores conhecimentos para que se possa relacionar, de fato, com a prática esportiva e de lazer do ciclismo. Entretanto, sou levado a pensar que há alguma coisa dessa prática que termina por influenciar relações mais acolhedoras e cooperativas (embora exista, visivelmente, muito comportamento competitivo entre os ciclistas). Por sua vez, isto também me faz pensar em como poderia ser um trânsito (enquanto meio de transporte) regido por bicicletas. Se esta hipótese estiver correta, possivelmente teríamos um trânsito menos agressivo e mais respeitoso, sem falar da chamada “mobilidade limpa” (o transporte via bike não polui o meio ambiente).

Depois dos 30km as câimbras nas pernas foram acrescidas pelas já conhecidas dormências nas mãos. Em dado momento, parei para descansar o tomei um desses suplementos ricos em carboidratos. Deu uma melhorada legal e pude chegar bem até o entroncamento que dá acesso a estrada de Sobradinho (fomos por Petrolina e voltamos por Juazeiro). Desse entroncamento até Sobradinho foi muito massa, sem dores e o visual muito bacana. De um lado serras e do outro o grande Lago de Sobradinho.

Chegamos na cidade por volta das 8h (na verdade saímos um pouco mais de 5h30 de Juazeiro) e paramos em uma barraquinha para comermos alguma coisa. Aquela altura o sol já estava forte. Aproveitamos para passar protetor solar e trocar as vestimentas de modo a nos proteger dos raios solares, mas certamente o calor impiedoso não seria clemente.

Saímos de Sobradinho por volta das 8h30 e logo percebi que as câimbras iriam voltar, além da dor no joelho, dormência nas mãos e mais dois elementos novos: calo no pé e febre (minha filha estava gripada tinham dois dias e provavelmente havia pego a sua doença).

Mesmo sendo um dos últimos do grupo, continuava a pedalar. Com certeza sempre tinha a minha companhia o mestre Dedé e outros membros do grupo que me acompanhavam por puro e valioso senso de grupo. Possivelmente, eles não sabiam (e não souberam até o final) do que eu estava vivendo, até porque não queria preocupar a galera.

Quando já estava pensando em ficar debaixo de alguma árvore e debandar do grupo (estava um calor da porra e como sentia febre, havia um ressecamento terrível na garganta), eis que surge um vilarejo. Os companheiros que estavam a frente tinham feito um pit stop. Ôpa! A salvação!

No bar do vilarejo, onde nos abastecemos com muita água, refrigerante, etc. “aterrissou” também um outro grupo de ciclistas. Estes, no caso, estavam todos com MTBs. O plano deles era voltar por uma estrada de barro, passando por Rodeadouro. Isso seria muito bom, pensei, pois juntaria o útil ao agradável. Pedalaria mais de boa na estrada de barro, daria um tempo no Rodeadouro (com direito a banho de rio e descanso) e me encontraria com alguns colegas. Beleza! O convite foi aceito!

Despedi-me da “Turma do Pedal” (já com saudade e com vontade de marcar outras pedaladas) e parti com aqueles cinco jovens. O ritmo deles foi foda no começo. Logo pedi arrego e dois ficaram ao meu lado. Novamente, a questão do companheirismo e solidariedade se evidenciaram nessa prática. Eu até tentei argumentar que não precisariam atrasar o pedal ou diminuir o ritmo por minha causa, pois eu estaria “numa boa”. Sem conversa.

Chegamos ao Rodeadouro, agradeci muitíssimo aquela rapaziada (infelizmente não guardei contatos) e nos despedimos. Estava, na verdade, louco para me jogar no rio e me refrescar.

Pedalei mais um pouquinho e quando estava já chegando na margem, apareceu um menino brincando e falando comigo. Tentei frear a bike, mas como era uma descida, perdi o controle e, na tentativa de me equilibrar, distendi um músculo da coxa. Foi uma dor que me levou à lua! Fiquei bem uns 10 minutos segurando minha perna... Fui me banhar e tentar relaxar. A dor até diminuiu. Pensei em ligar para minha esposa e ver a possibilidade de almoçarmos por ali mesmo e voltar com ela de carro. Para minha surpresa, o celular havia descarregado. Bem, mas isso não seria um grande empecilho, pois poderia, em bar, pedir ou pagar um crédito de ligação para alguém.

Pois bem, procurei um barzinho, pedi uma cervejinha (até mesmo para relaxar a musculatura) e chequei com o pessoal, local, se seria possível fazer uma ligação. Tentei celular do garçom, do dono do bar, de transeuntes e nada! Ou não dava sinal, ou não completava a ligação ou simplesmente chamava e ninguém atendia (tanto para o fixo de minha casa, quanto para o celular de minha esposa – esta se encontrava em trânsito, pois viajara à Remanso, sua terra natal).

E agora José? Estava sem condições físicas (pelo menos era o que pensava naquele momento) e não tinha como sair dali. Lembrei da velha história do abismo e da cereja, onde o sujeito se encontrava pendurado no abismo e olhando para um lado, avistou uma cereja. Diante do caos, optou por aproveitar a vida, colheu a cereja e se deliciou com ela. Pedi outra cerveja!

Após um tempinho, resolvi encarar o meu destino. Afinal, não seria este o meu desafio após o Fim do Mundo?

Por volta das 14h cheguei em casa completamente sequelado. Pedalei em um ritmo lento, mas de boa. O grande problema foi o sol escaldante. Dias depois continuei a me recuperar da gripe, mas na ânsia de encarar a próxima. E aí galera, quando será o pedal?







terça-feira, 21 de abril de 2015

Os verdadeiros campeões

Após um tempo de quase recesso com a bike, saí no dia 19 de abril para dar uma pedalada. Aqui em Juazeiro foi a corrida de Tiradentes. Como havia perdido o horário das 6h para um encontro com os parceiros (foi mal Luciano Ribeiro – e também galera do Pedal de Jua), aproveitei para curtir a preguiça da cama e namorar um pouquinho. Bem, só deu mesmo para bater um pedal as 9h, mas ainda aproveitei o final da corrida Tiradentes. Fui até perto do ponto de partida e voltei no vácuo dos retardatários. Um dos últimos corredores era um senhor, possivelmente de seus quase 70 anos. Um assistente da comissão organizadora do evento o acompanhava, assim como um carro de apoio. Este senhor estava cansado, o último, possivelmente, já não corria, andava, mas mesmo assim, estava lá. Ao passar por ele não me contive. Parabenizei-o e disse que ele era um grande exemplo para todos. Ele sorrio sutilmente e me cumprimentou. Acelerei o pedal e segui adiante. Inevitavelmente, lembrei do mestre Arestides, companheiro de pedal na Patagônia. Ele foi um grande exemplo para gente, o seu gesto de estar conosco, por si, já valia a pena. Estes senhores que não desistem, que insistem, inspiram, porque respiram vida e refutam a cristalização de uma existência, na terceira idade, de não poderem ser jovens, estes, portanto, são os verdadeiros campeões.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Décimo segundo dia de pedal - a chegada e redenção

Na manhã de uma terça-feira, acordamos ainda ressaquiados da pegada do dia anterior. Particularmente, ainda lembrava da minha mão que ficara adormecida (por causa do frio e da posição que meu guidom estava) e sentia o dolorido da bunda por conta de ficar muito tempo sob o selim. A perna também estava mal, sobretudo por causa dos esforços redobrados que eu era obrigado a imprimir para vencer o vento. Doía muito, principalmente quando o sopro dos céus batia e obrigava a dar pedaladas mais fortes para manter a velocidade e equilibrar a bike.
Tínhamos apenas um trecho a completar e nos restava, mais ou menos, 70 km pela frente. O desafio era que estaríamos em picos de montanhas mais altos e, consequentemente, em uma temperatura mais fria. Além disso, pegaríamos 5 km de subida, além de enfrentarmos possíveis rajadas de vento vindo de qualquer direção.
Deixamos aquela casinha e agradável propriedade com bastante gratidão. Procuramos o Pedro para nos despedir, mas como não o encontramos, deixamos um bilhete de "gracias".
O clima do grupo ainda estava pesado, talvez até tenha piorado porque Alex anunciara que iria partir na frente, sem o grupo. Esta decisão abalou a galera porque queríamos muito chegar todos juntos. Imaginávamos, caramba, todos pedalando unidos e entrando na cidade de Ushuaia. Mas fazer o que!? Tocamos o pedal!
Realmente, a questão de grupo, em uma aventura como essa, passa a ser um dos principais desafios. Pessoalmente, reprovo radicalmente estes programas que exploram o "lixo humano", como os reality shows (o Pedro Bial do BBB, por exemplo, vai falar, cinicamente , de "circo dos horrores"). Avalio que esses programas exploram e reforçam o que há de pior na humanidade. É claro que não podemos e não devemos negar que existem coisas nefastas na humanidade, mas incentivar e potencializar isso são coisas completamente diferentes. Mas voltando ao nosso grupo e a situação que estávamos expostos, essas crises que vivíamos poderiam ser consideradas comuns. Entretanto, certamente não queríamos potencializá-las, afinal não estávamos e não acreditávamos em "circos de horrores".
De modo específico, para mim, viver essas tensões no grupo não foi uma coisa fácil. Primeiro porque era novato na galera e muita coisa me escapava. Por outro lado, estava como uma espécie de observador / pesquisador e precisava ter um relativo distanciamento para refletir melhor sobre as paradas dos momentos. A estratégia encontrada foi saber estar junto/presente e ao mesmo tempo distante para evitar tomar partidos e não perder a abrangência das percepções.
O nosso pedal começou de boa, mas logo nas primeiras pegadas sentimos frio e sacamos que a coisa não seria fácil. Havia também uma certa ansiedade na gente, afinal eram os últimos quilômetros depois de 12 dias de pedaladas.
Para compensar tudo isso, o visual que vivíamos era incrível! Havia montanhas, vários pequenos rios e cachoeirinhas, muitas árvores, um lago ao lado (Lago Escondido) que margeávamos quilômetros e quilômetros. Pedalávamos cortando as montanhas e o víamos (o lago) lá de cima. Na sequência, passamos pelo Paso Garibalde (uma antiga estrada que levava ao complexo de montanhas e ao Lago Escondido). Eram grandes subidas e descidas, aliás as descidas eram deliciosas. 
Largávamos os freios e deixávamos soltar. No embalar das bikes, atingíamos velocidades que se aproximavam dos 60km/h, velocidade a todo risco, como diria o poeta Damásio da Cruz. Tudo isso com toda a boniteza da natureza ao nosso redor. No pico das montanhas havia neve e isso dava um toque todo especial.
Aquelas subidas pioraram as dores em minhas pernas, que estavam moídas dos vários dias de pedais. Alem disso, o que acentuava a ansiedade em relação a chegada era ver a quilometragem do ciclo rodando e os cálculos regressivos: faltam agora 35km, faltam agora 20km... 
Fato é que os últimos quilômetros estavam adicionados a ansiedade e o cansaço acumulado. Por mais que tivéssemos sorte nas dormidas ou pelo menos em algumas delas, dormir em saco de dormir, por exemplo, não era uma coisa fácil. 
No frio do austral não bastava só barraca. Havia necessidade de ter o saco de dormir. A gente ficava no saco de dormir, dentro dele, bem retinho, aí quando começava a incomodar a posição, a gente mudava de lado, e então a gente acordava e a voltava a dormir...  E se a gente ficava em uma parte de fora da manta térmica, voltava a fazer frio e acordava a gente (o esquema era o seguinte: barraca, manta térmica e por cima o saco de dormir). Apesar de todas as turbulências e dificuldades, tínhamos muitos momentos de humor e jorros de risos.
Assim, só para descontrair, não mais que Del, havia colocado uma pedra de uns 2kg escondida no bagageiro de Raffaello (alcunhado, por Del, de "menininho de ouro"). Raffaello, na sua inocência, ultrapassava a gente, como de costume, e se mandava para frente. Em uma das vezes, disse que a sua bike estava leve! Ao estar a nossa frente, avistávamos a grande pedra que carregava e nos pocávamos  de dar risadas ! E olhe que estávamos subindo uma serra terrível!! Raffaello andou carregando esse pedregulho no bagageiro por uns 15 km até que, em uma das paradas, percebeu a dita cuja. Ainda bem que ele teve senso de humor.
Depois de termos atingindo o pico, começamos a descer. Após um certo tempo, quando nos aproximávamos de um restaurante em uma estação de esqui, vimos que Alex estava na beira da estrada, sentado, se tremendo de frio e esperando a gente. Foi muito bom para todo mundo vê-lo e sabermos que ele havia ficada com a gente. Ao nos aproximar, ele foi logo dizendo que no restaurante vendia um chocolate quente muito massa. Paramos e fomos nos aquecer com o néctar dos deuses no charmoso e aconchegante restaurante. Quando estávamos, todos, à mesa a degustar do quente e caro achocolatado, Del se aproximou e pediu desculpas à Alex pelas possíveis ofensas provocadas e pelos desentendimentos desencadeados. Alex, imediatamente acolheu Del no seu sublime gesto. Aquela cena emocionou todo o grupo, pois sabíamos que a depender do que rolasse a viagem poderia ser uma coisa bacana ou uma coisa "pesada". Sabíamos da importância e do que representava aquele pedido de desculpas e o aceite. Em dado momento, nós nos olhamos e nos percebemos profundamente tocados. Posteriormente, Alex confidenciou que precisava ter um momento só, mas jamais iria cruzar Ushuaia sozinho. O incrível disso tudo foram os gestos dessas duas figuras. Alex, por ter mantido o sentido de grupo e não desistido dele (o grupo) e Del, justamente "o palhaço" da galera, por ter tido o brio de pedir desculpas. Realmente almas elevadas.
Toda aquela situação de rodopios do grupo me fez lembrar de um filme chamado "Crash, no limite", que mostra as diferentes realidades dos personagens a depender do ponto de vista que se aborde. Daí pensei que o importante mesmo seria buscar ao máximo as várias perspectivas, ou seja, em outras palavras, ser compreensivo, sobretudo no que diz respeito às relações.
Saímos do restaurante nutridos, aquecidos e de "almas lavadas". Pegamos a estrada. Algumas poucas subidas, mas a boa parte foi só descida. O problema mesmo foi o frio, porque ao descer não fazíamos esforço (que ajudava a gente a esquentar). Estávamos já próximos e já podíamos avistar o portal de entrada da cidade Ushuaia. Uma emoção incomensurável nos tomou. Foi uma alegria intensa. Lembramos dos nossos esforços, das nossas labutas, das dificuldades, de tudo que passamos, dos nossos parceiros que nos aguardavam no hostel, dos sabores e dessabores dessa aventura e tivemos a certeza de que tudo valeu, valeu a pena porque durante toda aventura nossa alma não foi pequena (parafraseando o poeta Fernando Pessoa).
Com todas as certezas, aprendemos muito e produzimos vários sentidos nessas experiências.
Um desses sentidos foi compreender que a aventura ciclística não apenas nos possibilitou ultrapassar os nossos limites, mas sobretudo reconhecer os nossos limites e também os limites e imperfeições do próximo (uma grande lição que o Arestides legou para gente).
Depois de alguns dias de repouso em Ushuaia, nos despedimos de tudo aquilo na magia do período de Páscoa e com direito a neve.
E agora, aqui, nas lembranças, recordações, no reviver... Fico a pensar o quanto Arestides foi nosso farol e motivo de orgulho, o quanto Chico foi fiel e parceiro, o quanto Raffaello foi sóbrio e soube conviver no meio das diferenças, o quanto Nilo foi amigo e sábio, o quanto Paulo foi seguro e parceiro, o quanto Del foi alegre e companheiro, o quanto Alex foi cuidadoso e prestativo, o quanto pude aprender com todos eles, como aquilo...
Mas a pergunta que não queria se calar e que passava por todos nós era "o que estou fazendo aqui!?" Esta pergunta tão comum para gente, sobretudo nos momentos mais difíceis levava a outra:  "o que movem esses ciclistas ?!" 
Responda você, mas responda experimentando.








quinta-feira, 2 de abril de 2015

Décimo primeiro dia de pedal - a crise no grupo

Nesse penúltimo dia de pedal acordamos um pouco mais de 7h. Fizemos, como de praxe, o nosso café, arrumamos tudo e partimos para a estrada nos despedindo daquele belo acampamento. 
Assim que reiniciamos o pedal, percebemos que estava sem vento e fazia pouco frio, pelo menos no começo da manhã.
Nossa previsão seria rodar uns 35km até Tolhuin. Lá compraríamos algumas coisas e almoçaríamos. Depois pedalaríamos mais alguns quilômetros até encontrarmos um bom lugar para acampar.
Após umas boas pedaladas e na tranquilidade, chegamos a Tolhuin no tempo previsto. Assim, uns foram comer sanduíche na padaria e outros foram para um boteco almoçar, onde rolou bife a milanesa, arroz, salada, esfirra e pão - um verdadeiro banquete para os esfomeados.
De barriga cheia fomos ao super mercado comprar mais refil para o fogareirozinho, mas estava fechado (na Argentina o comércio, geralmente, fecha de 13h às 15h -  no caso desse supermercado só iria abrir as16h30). Como eram 15h, batemos pedal. 
A partir de Tolhuin, subimos cerca de 400 metros de altitude. A estrada tinha um outro lindo visual. Como disse um argentino que encontramos: "dura, pero linda". Neste visual havia montanhas com mais árvores, muitos rios nos vales e picos elevados. Porém, não só o visual havia mudado. Percebemos alterações também no tempo. 
Nessa, subimos e descemos várias serras. Estávamos acompanhando o belíssimo Lago Fagnano.
A ideia inicial seria pedalar até faltar uns 75km para Ushuaia, mas tínhamos pela frente o desafio de encontrar um lugar para acampar. Até achamos um camping, mas era muito próximo de Tolhuin (apenas 10 km ) e isto quebraria toda a nossa programação.
Em um dado momento, o tempo começou a fechar, muitas nuvens se formaram e, finalmente, a chuva se acentuou. Também o temível vento patagônico chegou. O pedal se tornou mais difícil e também mais nervoso. Havia toda uma preocupação de enfrentarmos condições periclitantes.
Nesse momento, Alex ficou preocupado com o frio da noite e a chuva, pois não havia um bom lugar para acampar e estávamos, verdadeiramente, em risco. Alex então anunciou a possibilidade de buscar um Hostel, já que um transeunte havia dito que em uns 10 km à frente encontraríamos algo.
Esta mudança no planejamento, que implicaria mais tempo pedalando e possíveis despesas extras, sem uma discussão, deixou alguns incomodados, principalmente o Del, o grande parceiro de Alex. Em um dado momento, esse foi tirar satisfações com Alex e rolou um bate boca, onde ambos se sentiram ofendidos. Alex ficou bastante atingindo com a situação, muito provavelmente por causa de histórias anteriores, em especial as "desistências" de Arestides e Chico (Desistência esta entre aspas, porque, na verdade, não houve desistência. Esses parceiros seguiram outros caminhos em suas viagens). 
A situação ficou mais tensa quando Alex disparou a pedalar na frente e sozinho, deixando o grupo na retarguarda. A crise havia se instalado. Aquele, que a rapaziada creditara e autorizara como líder, havia, supostamente, deixado o grupo à deriva. 
Os cinco que ficaram para trás se mantiveram em bloco e pedalaram unidos. Del sempre ficou por último, como que cuidando dos parceiros (e olhe que Del é um monstro no pedal).
A estrada estava péssima, tinha vento, fazia frio, chovia e não havia bom lugar para acampar, Além de tudo isso, estávamos já bastante cansados. Nessa altura do campeonato já davam 18h. 
Quando estávamos no topo de um morro, já quase escurecendo, vimos, embaixo, luzes piscando. De cara sacamos que era o Alex. Ele estava na entrada de uma propriedade privada onde havia um restaurante e algumas casas. Não era o Hostel como havíamos suposto, de acordo com a informação recebida. Era um belo lugar onde tinha um lago e um grande restaurante, mas que já estava fechado. 
Alex, antes de chegarmos, convenceu o responsável do estabelecimento a nos arranjar um lugarzinho de modo que o grupo pudesse passar a noite. Não soubemos exatamente o que Alex falou, mas parece que bateu no coração de Pedro (assim se chamava o argentino e proprietário ou gerente do estabelecimento, ficamos sem essa precisão). Pedro liberou, gratuitamente, uma casinha para gente. Nesta, tinham duas camas e três colchões. Havia também banheiro, água e até lareira! 
O clima estava tenso e quase o grupo não batia papos mais interativos. Mesmo assim o rancho foi organizado. Teve até sorteio para ver que iria dormir nas camas / colchões. Sorte para Nilo, Raffaello e Marcelo.
Entretanto, naquela noite não rolou jantar coletivo,  não houve céu estrelado, não demos risadas... Em compensação, a casinha que dormimos nos proporcionou uma noite quentinha...nos protegeu do frio e, quiçá, nos salvou. 
Havia sido, apesar dos entremeios, uma decisão acertada.




quarta-feira, 1 de abril de 2015

Décimo dia de pedal - bicicletando: viajando sem foco

Décimo dia pedal - viajar sem foco 

Saímos de Rio Grande por volta das 9h30 (aliás, este foi um horário regular das nossas saídas). E pegamos a estrada que nos levaria até Ushuaia. Todavia, nosso planejamento era pedalar cerca de 75km e acampar. Depois, pedalar mais 70km, passando por Tulhuin. Finalmente, pedalar o último dia até chegar ao nosso destino final.
Nesse ante-penúltimo pedal, o dia amanhecera chuvoso, mas não muito. Isto fez com todos se preparassem com suas capas de chuva, calças impermeáveis, proteção para os sapatos e até os improvisos, como sacos plásticos enrolados nos pés e luvas de borrachas (aquelas que se usam na cozinha) para protelar as mãos. As vezes ficávamos muito estranhos com toda aquela parafernália, mas depois do trauma do primeiro dia de pedal, qualquer possível exagero não seria pouco.
Saímos da cidade e logo pegamos uma beira mar muito linda. Havia retões de quilômetros e também longas curvas, de modo que curtíamos todo o visual da imensidão do mar. Do no nosso lado direito havia pequenos morros com diferentes colorações, mas sempre no espectro do marrom. 
Nesse trecho, o tempo tinha melhorado, havia pouco vento, mas a pista estava molhada. Tínhamos que tomar cuidado não só por causa da água no asfalto e no acostamento, mas também por causa dos carros, ônibus e, principalmente, os caminhões, que passavam em alta velocidade e, por algumas vezes, muito próximos da gente, deixando-nos em grande perigo. Isto fez com que passássemos a pedalar de maneira mais prudente, ou seja, toda vez que ouvíamos um veículo se aproximando, saímos da linhazinha branca, no canto do asfalto, e íamos para o acostamento, que, via de regra, era de barro ou brita.
Quando começamos a sair da beira mar e passamos a subir montanhas e entrando mais ao interior, notamos que Del e Alex não estavam vindo. Paramos na entrada de um camping para aguardar os dois e ao mesmo tempo analisamos a possibilidade de passarmos a noite ali. O problema é que tínhamos rodado pouco para o nosso objetivo de 75km (havíamos rodado a metade ou menos até) e era ainda cedo, cerca de 13h.
Uns vinte minutos depois que tínhamos parado, os meninos chegaram. O pneu da bike de Del havia furado. Esta fora a segunda situação de pneu furado na viagem.
Decidimos avançar, pedalar mais e aproveitar o dia.
Havíamos nos distanciado do litoral e a geografia já era outra. Estávamos subindo, começava a aparecer pequenos rios, a vegetação mudara, sobretudo porque tinham mais árvores e também eram maiores.
Por volta da 17h procurávamos um bom lugar para armar o nosso acampamento. Passamos por uma ponte e vimos um riacho, pessoas fazendo piquenique e fogueiras. Seria ali mesmo o nosso rancho! Escolhemos um bom lugar (depois descobrimos que não foi tão bom assim porque montamos as barracas debaixo das árvores e havia risco das mesmas caírem sobre a gente, pois queda de árvores é bem comum na região) e tivemos direito a fogueira. Isto porque uma família que estava usando, tinha deixado para gente. Tudo perfeito! Riacho, fogueira, protegidos do vento e o próprio camping.
Lógico que resenhas não poderiam deixar de ter nesse dia. Saíram Del e Raffaello para tirar fotos no bosque, na volta Alex perguntou, de onda, onde estava o celular dele para fotografar algumas coisas. Del se deu conta que não estava com ele e saiu para procurar de volta no bosque. Alex ficou morrendo de dar risada, pois acreditava que estava a fazer Del de bobo, afinal supunha que tinha ficado (ele, Alex) com o celular. Depois de alguns minutos, chegou Del aliviado com o celular na mão e Alex branco de susto. Ou seja, Alex achava estar com celular, mas este realmente havia sido perdido!
Tínhamos rodado bem aquele dia. Foram 75km de boa e estávamos aproveitando uma das melhores noites de acampamento. Só faltou mesmo a carninha para assar na fogueira. 
Na noite, fomos brindados com um céu estrelado, porém sentimos frio. Felizmente nenhuma árvore caiu sob nossas barracas. Pensamos sobre nossas vidas, fomos dormir e sonhamos como crianças.
Em um dos sonhos, o guru Nilo me acompanhava em uma caminhada. Ele com aquele jeitão distraído, observador... Segurava sua bike, com um monte de tralhas e pedacinhos de panos e cordas caindo pelos lados. Era a bike mais desorganizada e também a mais engraçada.
Nessa caminhada, cada um segurando suas bikes, conversávamos sobre a vida e sobre a obsessão de termos metas e objetivos o tempo todo. Eu mesmo já havia defendido ter metas, objetividade e foco (inclusive ter foco me ajudou a superar alguma dificuldades no pedal).
Nilo falou "bicicletar". Sim, o verbo "bicicletar"! Na hora lembrei e pensei um monte de coisas...
Estava no foco. Estava olhando para linha branca da estrada. Aquela linha que fica no canto da estrada e que seguimos obstinadamente ao pedalar. Dei-me conta que estava perdendo algo da viagem. Sabia que ter foco era algo importante na vida, pois nos ajuda a ter objetivos, mas a vida não é só feita de objetivos e metas (isto me fez lembrar a música de Paulinho Moska, "A seta e o alvo" - eis o refrão: "Mas você só quer atingir sua meta. Sua meta é a seta no alvo, Mas o alvo, na certa, não te espera").
Nilo prosseguiu, como que adivinhasse o que eu pensava. 
"Por isso o verbo 'bicicletar'".
Sim, Nilo, este verbo significa justamente deixar rolar, curtir, ir a diante.
E continuando nos meus pensamentos... A vida demanda objetividade as vezes, sobretudo necessitamos algo específico e temos que lançar mão das nossas energias. Objetividade é concentrar energia e precisá-la em algo. Porém, a objetividade não pode e nem deveria ser a preponderância da vida.  Esta, em vários momentos, pode ser objeto (da própria vida), mas não a vida um objeto. 
O problema é que o sistema produtivista e consumista instaurou o reinado da objetividade e tudo ou quase tudo escorrega para esse funil, que afunila a vida. 
A vida não é só objetiva (ou de objetividade). A vida mesma não é precisa, não é focada, a vida é transitória, flutuante. "Navegar é preciso, viver não é preciso" (Fernando Pessoa).
Pedalando apenas com o foco (olhando para linha branca) me ajudava a superar algumas dificuldades, mas passar o pedal todo assim, me fazia perder a riqueza da viagem.
Acordamos bem para enfrentar o penúltimo dia de pedal.