segunda-feira, 23 de março de 2015

O quarto dia de pedal

Aproveitamos esses dias de "férias"  para recuperarmos nossas energias. No dia anterior, praticamente comíamos e dormíamos. Já no dia seguinte, no domingo, bateu logo aquela agonia de procurar fazer alguma coisa. Resolvemos dar uma pedalada e conhecer a cidade. Encontramos, na orla, uma bela ciclovia (de dar inveja às nossas cidades). Fizemos um bom percurso, mas não deixamos de saldar o oceano pacífico. Fomos até uma ponte e sentimos, no toque e no gosto, a magia desse outro oceano. Éramos, ali, "os três desgarrados no Pacífico", eis a sensacional tirada de Arestides. 
Estávamos também com grande expectativa para saber como fora o pedal de Nilo,  Paulo, Rafaelo, Alex e Del. A última vez que o vimos (pelo menos Chico e eu) foi na Ruta 40, onde havíamos saído de Tapi Aike à Cerro Castillo. 
Arestides, Chico e eu, aquele altura, umas 15h30, estávamos no Hostal Picada de Carlitos, de Puerto Natales, onde havíamos nos hospedado, comendo uma deliciosa macarronada ao molho de sardinha e atum quando, para nossa boa surpresa, chegaram os caras! 
Na verdade, imaginávamos que eles iriam chegar à noite, pois de Cerro Castillo até Puerto Natales são uns 60 km de distância e com o vento contra a coisa não seria fácil. Porém, pelo visto tudo tinha dado certo e estávamos, os três desgarrados, doidos para saber das novidades, principalmente como haviam passado na estrada, tanto na chegada a Cerro Castllo, antes de os deixarmos, quanto no quarto dia de pedal.
Os caras disseram que realmente foi sinistro a chegada até Cerro Castillo, na verdade até a aduana (10 km antes de Cerro). Eles chegaram às 23h e o desespero e fadiga eram tremendos, já abatendo todos. Foi, de longe, o pior trecho da viagem até o momento. 
Eles dormiram em um galpão ao lado do posto da aduana e, graças a gentileza dos guardas fiscais argentinos, puderam ter água para beber. Nilo, por exemplo, estava desidratado. Havia bebido toda sua reserva e, na estrada, só pensava em líquidos, sentia dores no corpo e tinha uma sensação de desfalecimento. Possivelmente, o seu organismo entrara em colapso, mas a força interior e a coragem, além do preparo, garantiram seguir adiante. Nilo, em retrospectiva, já conosco no "Hostal", disse que havia aprendido a lição. Ele estava usando muita roupa, por causa do frio, mas era justamente isso que fazia com que ele perdesse líquido por causa do suor. De agora para frente estaria usando o mínimo necessário de roupa, mesmo no frio.
Bem, os caras, ao amanhecer no dia seguinte, antes de pedalarem mais 10 km para o oásis que seria Cerro, passaram pela aduana, de modo a sair da Argentina e entrar no Chile. Nessa passagem, não menos que Del, rolaram situações estapafúrdias, para não dizer hilárias.
O dito cujo, em Tapi Aike, havia encontrado uma carcaça de ema. Não se controlou e pegou a cabeça da grande ave, pendurando-a em sua bike (dizem que costuma fazer isso. Em outra aventura, pendurou em sua bike uma cabeça de boi e rodou a viagem toda desse jeito). O problema foi que, na sua inocência, não se deu conta e foi tentar passar na aduana. De imediato os ficais pararam Del. Afinal, ema é um animal protegido por lei e também há toda aquela história de não poder passar com produtos orgânicos de um país para outro. Os fiscais deram a maior bronca, uns sérios e outros até rindo da insanidade do nosso companheiro. Como Del não tem papas na língua, ao ser indagado o porquê havia feito aquilo, respondeu na lata que era doido mesmo e que no sertão, em outras pedaladas, pegava cabeça de boi, pedra... Que carrega tudo na bike. Agora imagine Del falando com aquele sotaque alagoano para os argentinos! Será que entenderam!? Certamente viram que era piradão mesmo e deixaram-no em paz.
Para compensar a sequência, Del sentiu dor de barriga (êta homem que sente dor de barriga!!!) e foi ao banheiro da rodoviária. Após seu alívio, procurou papel. Não encontrou. Sem pestanejar, abriu a porta que dava privacidade da latrina, saiu do jeito que estava, com as calças abaixo do joelho, para procurar papel. Ignorando uns dois homens que estavam no toalete, Del empurrava uma porta e nada. Abria outra e nada. Olhou para um lado e viu algum aviso (desses que dizem para não jogar papel no chão), não contou conversa e se serviu do papel, ali mesmo, no meio do banheiro. Olhou para o outro lado e avistou o segundo aviso. Pelo menos deu para tirar o grosso. E ele, ao nos relatar esse episódio, disse que estava certo, afinal iria ficar como?!
Os rapazes, após toda essa história  na aduana, foram, finalmente para Cerro, onde ficaram em um aconchegante Hostel. Passaram o dia por lá recuperando as energias. No dia seguinte, por volta das 9h, partiram para Puerto Natales. O pedal nesse trecho, para surpresa deles foi muito tranquilo. Não houve vento, o tempo estava um pouco nublado, pegaram asfalto e pedalaram em um relevo plano. O pedal foi, nas palavras de Paulo, um passeio com bonitas paisagens, lagos e muitos animais silvestres, Chegaram bem a Puerto Natales e ainda puderam desfrutar da deliciosa macarronada de Arestides, além de tomar uns bons vinhos chilenos, inclusive um chamado bicicleta.


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