segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Fotos em pedal: flagras "de-espero"

Eis aqui alguns flagras registrados hoje quando pedalava em direção ao Cais do Remanso Velho (cidade tragicamente inundada pelo ambicioso projeto hidroelétrico da CHESF, quando construiu o Lago do Sobradinho - até pouco tempo atrás, o maior lago artificial, em espelho d'água, do mundo - não que devamos ter orgulho disso, mas que possamos refletir...)
O que me chama atenção é vastidão do nada que emerge. Ao chegar na beira do cais, a ventania me balançava e lançava areia, me impedindo de enxergar direito. Fiquei a meditar sobre aquele deserto... Será esse o destino disso tudo? Será aqui o começo da cova do Velho Chico? 
Ainda no pedal, via os carros pipas passando... uma trava do cano de água aparentemente sem uso e um novilho morto, apodrecido e sendo comido por outros bichos. 
Via ainda caminhões pipas passando para um lado e outro. Dizem que a despesa com o combustível está altíssima para a prefeitura (não só em relação aos caminhões, mas também no que diz respeito a bomba que draga água, cada vez mais longe, para abastecer a cidade de Remanso).
Uma garrafa plástica de água mineral na beira da estrada me chamou atenção. A água presa, engarrafada, pura, límpida, mas presa, não disponível... Um anúncio, um sinal, do comércio da água? Um alerta do que estar por vir, ou seja, a privatização desse bem humano?
Ao lado de tamanha "devastação" havia traços do nosso tempo: lixo. Lixo em plásticos, em sacos, embalagens coloridas e cintilantes, mesmo que já desbotadas pela ação do sol, revelam o modus operandi de uma civilização. Fico a imaginar cientistas arqueólogos desvendado os segredos do nosso tempo ao reencontrar tais vestígios a mil anos lá frente. O que diriam? Como nos avaliariam? O que pensariam do nosso modo de vida?
Flagras de morte, de réstias de vida resistindo, de desesperos, de espero, de esperanças.. quiçá! Teremos ainda tempo?