Partimos já tarde, por volta das 12h30. Logo de saída percebemos o quanto seria difícil, pois ventava muito contra a gente. Nosso pedal não passava de 5km / h e só na marcha lenta. Era como se estivéssemos subindo uma ladeira, ou seja, imagine subindo uma ladeira de 60 km!!! Como disse Paulo, o vento é tão forte que você tem que pedalar na descida, se não a bicicleta para. E tudo isso sem contar a quantidade de peso nos bagageiros! Na verdade, o tranco estava acumulado, pois vínhamos de dois dias sem dormir direito, com alimentação precária e sem contar do esgotamento físico.
Após 20 km percorridos, percebi que não dava mais para mim. As pernas entraram em fadiga e, por vezes, fechava os olhos enquanto pedalava, buscando, nessa ação, recuperar energias em alguma parte de mim. Tinha a impressão que iria desfalecer. Tentei ainda descer da bicicleta e empurrar (fazia 4km / h), mas mesmo andando me cansava levar a bicicleta carregada e contra a ventania (acho que estava acima de 30km de velocidade). Em um dado momento, achei muito bacana da parte do Nilo ficar ao meu lado, mesmo distante do grupo. E quando desci da bike ele também assim o fez.
Dei-me conta que pedia ao grupo para parar a cada 1,5km, seja para beber água (havia frio, ar seco e o vento fazia com que a gente perdesse muita água), para respirar um pouco ou para diluir a dormência que sentia em minhas mãos. Mas chegou a hora de aceitar os limites. Já estávamos com 5 horas de pedal duríssimo. Pedi o stop e comuniquei ao grupo que iria tentar carona e que os encontraria na próxima parada. Nesse momento Chico disse que também não dava para ele e que me acompanharia.
Bem, demos boa sorte aos nossos parceiros e ficamos na pista. A princípio continuamos a pedalar e a pedir carona, quando, obviamente, passava algum carro. Apenas um veículo parou. Era um jovem casal argentino que nos ofereceu água e barras de cereais, mas não tinha como nos ajudar mais, pois seu carro era pequeno. Boas almas aquelas.
Passamos a ficar, Chico e eu, preocupados, pois não estávamos conseguindo carona, o anoitecer era próximo e a nossa reserva de água chegara no limiar. Chico então deu ideia de voltarmos à Tapi Aike, pelo menos pedalaríamos 22km a favor do vento e lá teríamos, no mínimo, água e abrigo. Não rodamos 5km e avistamos uma carreta. Paramos e pedimos carona. Milagre! A carreta parou e um jovem motorista disse que nos levaria. O segundo anjo! Colocamos as bikes na carroceria (parecia ser uma carroceria de transportar cordeiro, muito comum nessa região). O jovem, que se chamava Dário, disse que passaria por uma cidade chamada Rio Turbio e que lá poderíamos pegar algum outro transporte para Cerro Castillo. No meio da estrada passamos pelos nossos companheiros, mas não deu para comunicar com eles. Sentimos muito por termos desprendido do grupo e torcemos para que tudo desse certo com eles.
Bem, não paramos em Cerro Castillo, mas chegamos em Rio Turbio (uma cidade maior e um pouco mais longe) já na boca da noite. Combinamos que iríamos dormir em alguma pousada e após pedir informações, montamos em nossas bikes para encontrar nossa guarida. Já havíamos pedalados um montão e não víamos a hora de comer alguma coisa que não fosse purê de batata em pó e sardinha, além de tomar um banho (estávamos podres). Como a pousada parecia muito longe, Chico avistou um ginásio onde muitas pessoas estavam saindo. Perguntamos a uma madame sobre a pousada e a mesma ratificou a informação que havíamos recebido. Era seguir mais uns 2 km adiante. Quando já estávamos montando em nossas bikes, um homem nos chamou. Ele disse que havia conduzido o nosso amigo Arestides, de Rio Turbio à Puerto Natales (cidade chilena que faz fronteira com a Argentina). Um milagre e o nosso outro anjo!!!
Com as tralhas todas no bagageiro e as bikes no teto (acho que o carro de Juan era um Golf), passamos pela fronteira e andamos uns 25 km até chegarmos em Puerto Natales (esta cidade está dentro do percurso e vamos reencontrar a galera para dar continuidade ao pedal).
Juan nos deixou no hotel que Arestides estava. Reencontramo-nos e foi aquela festa. Recuperamos as energias as energias e fuçamos a aguardar o pessoal. Aproveitamos também para organizar o nosso planejamento e avaliar as condições do pedal (direção do vento, ladeiras, etc).
O vento nos trouxe lições. Lições para vida que estão além das conquistas de chegar ou não. O vento nos mostrou que é importante lutar até o fim e que, no sopro forte, nos permita ser tocados na alma. E lá, na alma, o vento tem a nos dizer as coisas mais importantes e que só cada sabe. O vento nos humaniza porque sempre há algo que posamos ouvir dele. E tudo isso me fez lembrar aquela música do Bob Dylan, "Soprando no vento"
Quantas estradas precisará um homem andar
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar,
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará balas de canhão voar,
Até serem para sempre abandonadas?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
Sim e quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja lavada pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir,
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça,
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim e quantas orelhas precisará ter um homem,
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
Antes que possam chamá-lo de um homem?
Quantos mares precisará uma pomba branca sobrevoar,
Antes que ela possa dormir na areia?
Sim e quantas vezes precisará balas de canhão voar,
Até serem para sempre abandonadas?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
Sim e quantos anos pode existir uma montanha
Antes que ela seja lavada pelo mar?
Sim e quantos anos podem algumas pessoas existir,
Até que sejam permitidas a serem livres?
Sim e quantas vezes pode um homem virar sua cabeça,
E fingir que ele simplesmente não vê?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
Sim e quantas vezes precisará um homem olhar para cima
Antes que ele possa ver o céu?
Sim e quantas orelhas precisará ter um homem,
Antes que ele possa ouvir as pessoas chorar?
Sim e quantas mortes ele causará até ele saber
Que muitas pessoas morreram?
A resposta, meu amigo, está soprando no vento
A resposta está soprando no vento
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