domingo, 10 de abril de 2016

O que os homens da galera das bikers comentam sobre suas mulheres – uma breve reflexão a partir das Representações Sociais






É relativamente comum ouvir piadas e ou comentários, sobretudo da parte dos homens, do quanto e do como as mulheres protestam e se revoltam com as suas saídas para os famosos pedais.
Quem participa de grupos de bike nas redes sociais como Facebook ou WhatsApp já deve ter visto alguma charge ou tirinha, fazendo uma onda com a situação, como por exemplo: do homem saindo de madrugada, às escondidas, enquanto sua mulher dorme.
Recentemente em um pedal com uns amigos, cruzei com um outro grupo de ciclistas (quase todos homens). E qual foi o papo interativo e marcado por risadas? Justamente uma espécie de auto-gozação do quanto as respectivas mulheres ficam putas, fazem greve de sexo e protestam por causa dos pedais. Nesse papo, cada um trazia suas experiências e contava situações mais radicais, onde suas mulheres eram colocadas no lugar de bravas, incompreensíveis, injustas, intolerantes... Enquanto eles ficavam no lugar de inocentes, meninos que querem apenas se divertir e incompreendidos. Alguns diziam também o quanto já havia pelejado para que  as suas mulheres aderissem ao "esperto do pedal".
Independente de se buscar culpados, a questão que quero chamar atenção é a Representação Social (campo da Psicologia Social legada por Serge Moscovici – ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Serge_Moscovici) forjada para a prática de pedais entre homens na relação com suas mulheres que, segundo estes, não aderem à tal prática. Quero chamar a atenção dessa particularidade porque há também situações contrárias, onde mulheres são adeptas ao pedal e os seus respectivos companheiros protestam (não sei de situações envolvendo casais homoafetivos).
Particularmente, não vejo que a questão esteja determinada pelo gênero, mas também sem ele não é possível entender sua complexidade. Pelo que já pude testemunhar há muito da adesão ou não na atividade do ciclismo e o quanto isso termina por absorver aquele que se envolve, deixando o parceiro ou parceira meio que de lado. Isso, portanto, é uma variável a ser considerada.
Mas voltado a questão da Representação Social é interessante atinar o quanto essas representações (do homem e da mulher na sua relação de aceitar ou não e se envolver ou não com a prática do pedal) realmente são atravessadas por duas dimensões, de acordo com a teoria da Construção da Realidade Social (ver Berger e Luckmann - https://en.wikipedia.org/wiki/The_Social_Construction_of_Reality), um dos fundamentos, por sua vez, da Teoria das Representações Sociais. As duas dimensões são: a objetividade e a subjetividade. A primeira corresponde justamente a concretização e objetivação mesma dessas experiências através das tirinhas, das charges e mesmo das falas, em momento de encontro entre os indivíduos e ou grupos de ciclistas. A dimensão da subjetividade tem relação com a própria vivência da experiência, a vivência marcada, simbolizada, que é história, na visão de Walter Benjamin (ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Benjamin). Então quando alguém vê uma imagem da tirinha ou da charge ou quando presencia um papo como o descrito, vive a representação, atualiza, experiencia, atualiza a história e cria novas condições, para dar seguimentos ao ciclo, de objetivação-subjetivação.
É claro que esse ciclo não é irredutível e que pode, inclusive se dissolver.
De todo jeito, no mínimo, é muito interessante experienciar e refletir essas novas (ou velhas) relações de gêneros em novas práticas, mesmo que considerada pós-modernas, como é o caso do uso da bike no século XXI.