Havia
marcado com a “Turma do Pedal” de Juazeiro uma saída para o domingo. Esta seria
a primeira vez que iria rodar com o pessoal (na verdade conheci esse pessoal por
acaso, ou melhor, uma parte dessa galera quando pedalava para Sobradinho, daí
fui adicionado no whatsApp do grupo).
Era
domingo e foi combinado o local de saída na cabeceira da Ponte Presidente Dutra
(do lado de Juazeiro) por volta das 5h. Cheguei a pensar que não iria rolar e
entrei em contato com o parceiro Luciano Ribeiro, que prontamente me convidou
para o seu pedal as 6 da matina. Terminei por encontrar os caras da “Turma do
Pedal”, agradeci ao Luciano e parti com essa turma (só fiquei meio cabreiro,
pois todos estavam com speed, apenas eu e Luiz estávamos de MTB).
Seria
um bom pedal após o meu retorno do Fim do Mundo (mais ou menos um mês antes
havia percorrido 1100km, de El Calafate à Ushuaia). Realmente estava na fissura
de algo desafiador. Iríamos rodar, aproximadamente, 120km, ida e volta,
Juazeiro - Sobradinho. Os caras chamaram esse pedal de “volta ao Lago” (uma
alusão ao Lago Sobradinho).
Apesar
de não estar me sentindo cem por cento, topei a parada. Havia ainda dor no
joelho, tive insônia na madruga (acordei as 2h da manhã e não voltei a dormir)
e sacava que estava fora de forma. Mesmo assim, como acabei de dizer, topei a
parada.
Logo
de cara, por volta dos 30km, senti câimbras nas pernas. Diminui a velocidade e
joguei a marcha a níveis mais lentos. Percebi também que naquele grupo havia
algo que se repetia em outros grupos de bikes, ou seja, o cuidado e a acolhida
com os seus membros, mesmo os novatos.
Tanto o Luís, quanto o Dedé (o mais velho do grupo e, segundo a galera,
o “mestre”) estavam sempre ao meu lado e perguntando como eu me sentia.
Essa
atenção e cuidado ainda merecem melhores e maiores conhecimentos para que se
possa relacionar, de fato, com a prática esportiva e de lazer do ciclismo.
Entretanto, sou levado a pensar que há alguma coisa dessa prática que termina
por influenciar relações mais acolhedoras e cooperativas (embora exista,
visivelmente, muito comportamento competitivo entre os ciclistas). Por sua vez,
isto também me faz pensar em como poderia ser um trânsito (enquanto meio de
transporte) regido por bicicletas. Se esta hipótese estiver correta,
possivelmente teríamos um trânsito menos agressivo e mais respeitoso, sem falar
da chamada “mobilidade limpa” (o transporte via bike não polui o meio
ambiente).
Depois
dos 30km as câimbras nas pernas foram acrescidas pelas já conhecidas dormências
nas mãos. Em dado momento, parei para descansar o tomei um desses suplementos
ricos em carboidratos. Deu uma melhorada legal e pude chegar bem até o
entroncamento que dá acesso a estrada de Sobradinho (fomos por Petrolina e
voltamos por Juazeiro). Desse entroncamento até Sobradinho foi muito massa, sem
dores e o visual muito bacana. De um lado serras e do outro o grande Lago de
Sobradinho.
Chegamos
na cidade por volta das 8h (na verdade saímos um pouco mais de 5h30 de
Juazeiro) e paramos em uma barraquinha para comermos alguma coisa. Aquela
altura o sol já estava forte. Aproveitamos para passar protetor solar e trocar
as vestimentas de modo a nos proteger dos raios solares, mas certamente o calor
impiedoso não seria clemente.
Saímos
de Sobradinho por volta das 8h30 e logo percebi que as câimbras iriam voltar,
além da dor no joelho, dormência nas mãos e mais dois elementos novos: calo no
pé e febre (minha filha estava gripada tinham dois dias e provavelmente havia
pego a sua doença).
Mesmo
sendo um dos últimos do grupo, continuava a pedalar. Com certeza sempre tinha a
minha companhia o mestre Dedé e outros membros do grupo que me acompanhavam por
puro e valioso senso de grupo. Possivelmente, eles não sabiam (e não souberam
até o final) do que eu estava vivendo, até porque não queria preocupar a
galera.
Quando
já estava pensando em ficar debaixo de alguma árvore e debandar do grupo (estava um calor da porra e como sentia febre, havia um ressecamento terrível na
garganta), eis que surge um vilarejo. Os companheiros que estavam a frente
tinham feito um pit stop. Ôpa! A salvação!
No
bar do vilarejo, onde nos abastecemos com muita água, refrigerante, etc.
“aterrissou” também um outro grupo de ciclistas. Estes, no caso, estavam todos
com MTBs. O plano deles era voltar por uma estrada de barro, passando por
Rodeadouro. Isso seria muito bom, pensei, pois juntaria o útil ao agradável.
Pedalaria mais de boa na estrada de barro, daria um tempo no Rodeadouro (com
direito a banho de rio e descanso) e me encontraria com alguns colegas. Beleza!
O convite foi aceito!
Despedi-me
da “Turma do Pedal” (já com saudade e com vontade de marcar outras pedaladas) e
parti com aqueles cinco jovens. O ritmo deles foi foda no começo. Logo pedi
arrego e dois ficaram ao meu lado. Novamente, a questão do companheirismo e
solidariedade se evidenciaram nessa prática. Eu até tentei argumentar que não
precisariam atrasar o pedal ou diminuir o ritmo por minha causa, pois eu
estaria “numa boa”. Sem conversa.
Chegamos
ao Rodeadouro, agradeci muitíssimo aquela rapaziada (infelizmente não guardei
contatos) e nos despedimos. Estava, na verdade, louco para me jogar no rio e me
refrescar.
Pedalei
mais um pouquinho e quando estava já chegando na margem, apareceu um menino
brincando e falando comigo. Tentei frear a bike, mas como era uma descida,
perdi o controle e, na tentativa de me equilibrar, distendi um músculo da coxa.
Foi uma dor que me levou à lua! Fiquei bem uns 10 minutos segurando minha
perna... Fui me banhar e tentar relaxar. A dor até diminuiu. Pensei em ligar para
minha esposa e ver a possibilidade de almoçarmos por ali mesmo e voltar com ela
de carro. Para minha surpresa, o celular havia descarregado. Bem, mas isso não
seria um grande empecilho, pois poderia, em bar, pedir ou pagar um crédito de
ligação para alguém.
Pois
bem, procurei um barzinho, pedi uma cervejinha (até mesmo para relaxar a
musculatura) e chequei com o pessoal, local, se seria possível fazer uma
ligação. Tentei celular do garçom, do dono do bar, de transeuntes e nada! Ou
não dava sinal, ou não completava a ligação ou simplesmente chamava e ninguém
atendia (tanto para o fixo de minha casa, quanto para o celular de minha esposa
– esta se encontrava em trânsito, pois viajara à Remanso, sua terra natal).
E
agora José? Estava sem condições físicas (pelo menos era o que pensava naquele
momento) e não tinha como sair dali. Lembrei da velha história do abismo e da
cereja, onde o sujeito se encontrava pendurado no abismo e olhando para um lado,
avistou uma cereja. Diante do caos, optou por aproveitar a vida, colheu a
cereja e se deliciou com ela. Pedi outra cerveja!
Após
um tempinho, resolvi encarar o meu destino. Afinal, não seria este o meu
desafio após o Fim do Mundo?
Por
volta das 14h cheguei em casa completamente sequelado. Pedalei em um ritmo
lento, mas de boa. O grande problema foi o sol escaldante. Dias depois continuei
a me recuperar da gripe, mas na ânsia de encarar a próxima. E aí galera, quando
será o pedal?
Meu amigo, suas aventuras são bem maiores que às minhas. Eu é que quero andar com você, assim minhas estórias terão mais animação. kkkkk. Mas é assim mesmo, somente nos pondo a prova, todos os dias e todas às vezes, é que NOS superamos e está é a coisa mais importante de todas> a auto-superação. Vamos marcar para irmos esse fim de semana. Abraços.
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