quarta-feira, 29 de abril de 2015

E agora José? Encarando o desafio após o Fim do Mundo


Havia marcado com a “Turma do Pedal” de Juazeiro uma saída para o domingo. Esta seria a primeira vez que iria rodar com o pessoal (na verdade conheci esse pessoal por acaso, ou melhor, uma parte dessa galera quando pedalava para Sobradinho, daí fui adicionado no whatsApp do grupo).

Era domingo e foi combinado o local de saída na cabeceira da Ponte Presidente Dutra (do lado de Juazeiro) por volta das 5h. Cheguei a pensar que não iria rolar e entrei em contato com o parceiro Luciano Ribeiro, que prontamente me convidou para o seu pedal as 6 da matina. Terminei por encontrar os caras da “Turma do Pedal”, agradeci ao Luciano e parti com essa turma (só fiquei meio cabreiro, pois todos estavam com speed, apenas eu e Luiz estávamos de MTB).

Seria um bom pedal após o meu retorno do Fim do Mundo (mais ou menos um mês antes havia percorrido 1100km, de El Calafate à Ushuaia). Realmente estava na fissura de algo desafiador. Iríamos rodar, aproximadamente, 120km, ida e volta, Juazeiro - Sobradinho. Os caras chamaram esse pedal de “volta ao Lago” (uma alusão ao Lago Sobradinho).

Apesar de não estar me sentindo cem por cento, topei a parada. Havia ainda dor no joelho, tive insônia na madruga (acordei as 2h da manhã e não voltei a dormir) e sacava que estava fora de forma. Mesmo assim, como acabei de dizer, topei a parada.

Logo de cara, por volta dos 30km, senti câimbras nas pernas. Diminui a velocidade e joguei a marcha a níveis mais lentos. Percebi também que naquele grupo havia algo que se repetia em outros grupos de bikes, ou seja, o cuidado e a acolhida com os seus membros, mesmo os novatos.  Tanto o Luís, quanto o Dedé (o mais velho do grupo e, segundo a galera, o “mestre”) estavam sempre ao meu lado e perguntando como eu me sentia.

Essa atenção e cuidado ainda merecem melhores e maiores conhecimentos para que se possa relacionar, de fato, com a prática esportiva e de lazer do ciclismo. Entretanto, sou levado a pensar que há alguma coisa dessa prática que termina por influenciar relações mais acolhedoras e cooperativas (embora exista, visivelmente, muito comportamento competitivo entre os ciclistas). Por sua vez, isto também me faz pensar em como poderia ser um trânsito (enquanto meio de transporte) regido por bicicletas. Se esta hipótese estiver correta, possivelmente teríamos um trânsito menos agressivo e mais respeitoso, sem falar da chamada “mobilidade limpa” (o transporte via bike não polui o meio ambiente).

Depois dos 30km as câimbras nas pernas foram acrescidas pelas já conhecidas dormências nas mãos. Em dado momento, parei para descansar o tomei um desses suplementos ricos em carboidratos. Deu uma melhorada legal e pude chegar bem até o entroncamento que dá acesso a estrada de Sobradinho (fomos por Petrolina e voltamos por Juazeiro). Desse entroncamento até Sobradinho foi muito massa, sem dores e o visual muito bacana. De um lado serras e do outro o grande Lago de Sobradinho.

Chegamos na cidade por volta das 8h (na verdade saímos um pouco mais de 5h30 de Juazeiro) e paramos em uma barraquinha para comermos alguma coisa. Aquela altura o sol já estava forte. Aproveitamos para passar protetor solar e trocar as vestimentas de modo a nos proteger dos raios solares, mas certamente o calor impiedoso não seria clemente.

Saímos de Sobradinho por volta das 8h30 e logo percebi que as câimbras iriam voltar, além da dor no joelho, dormência nas mãos e mais dois elementos novos: calo no pé e febre (minha filha estava gripada tinham dois dias e provavelmente havia pego a sua doença).

Mesmo sendo um dos últimos do grupo, continuava a pedalar. Com certeza sempre tinha a minha companhia o mestre Dedé e outros membros do grupo que me acompanhavam por puro e valioso senso de grupo. Possivelmente, eles não sabiam (e não souberam até o final) do que eu estava vivendo, até porque não queria preocupar a galera.

Quando já estava pensando em ficar debaixo de alguma árvore e debandar do grupo (estava um calor da porra e como sentia febre, havia um ressecamento terrível na garganta), eis que surge um vilarejo. Os companheiros que estavam a frente tinham feito um pit stop. Ôpa! A salvação!

No bar do vilarejo, onde nos abastecemos com muita água, refrigerante, etc. “aterrissou” também um outro grupo de ciclistas. Estes, no caso, estavam todos com MTBs. O plano deles era voltar por uma estrada de barro, passando por Rodeadouro. Isso seria muito bom, pensei, pois juntaria o útil ao agradável. Pedalaria mais de boa na estrada de barro, daria um tempo no Rodeadouro (com direito a banho de rio e descanso) e me encontraria com alguns colegas. Beleza! O convite foi aceito!

Despedi-me da “Turma do Pedal” (já com saudade e com vontade de marcar outras pedaladas) e parti com aqueles cinco jovens. O ritmo deles foi foda no começo. Logo pedi arrego e dois ficaram ao meu lado. Novamente, a questão do companheirismo e solidariedade se evidenciaram nessa prática. Eu até tentei argumentar que não precisariam atrasar o pedal ou diminuir o ritmo por minha causa, pois eu estaria “numa boa”. Sem conversa.

Chegamos ao Rodeadouro, agradeci muitíssimo aquela rapaziada (infelizmente não guardei contatos) e nos despedimos. Estava, na verdade, louco para me jogar no rio e me refrescar.

Pedalei mais um pouquinho e quando estava já chegando na margem, apareceu um menino brincando e falando comigo. Tentei frear a bike, mas como era uma descida, perdi o controle e, na tentativa de me equilibrar, distendi um músculo da coxa. Foi uma dor que me levou à lua! Fiquei bem uns 10 minutos segurando minha perna... Fui me banhar e tentar relaxar. A dor até diminuiu. Pensei em ligar para minha esposa e ver a possibilidade de almoçarmos por ali mesmo e voltar com ela de carro. Para minha surpresa, o celular havia descarregado. Bem, mas isso não seria um grande empecilho, pois poderia, em bar, pedir ou pagar um crédito de ligação para alguém.

Pois bem, procurei um barzinho, pedi uma cervejinha (até mesmo para relaxar a musculatura) e chequei com o pessoal, local, se seria possível fazer uma ligação. Tentei celular do garçom, do dono do bar, de transeuntes e nada! Ou não dava sinal, ou não completava a ligação ou simplesmente chamava e ninguém atendia (tanto para o fixo de minha casa, quanto para o celular de minha esposa – esta se encontrava em trânsito, pois viajara à Remanso, sua terra natal).

E agora José? Estava sem condições físicas (pelo menos era o que pensava naquele momento) e não tinha como sair dali. Lembrei da velha história do abismo e da cereja, onde o sujeito se encontrava pendurado no abismo e olhando para um lado, avistou uma cereja. Diante do caos, optou por aproveitar a vida, colheu a cereja e se deliciou com ela. Pedi outra cerveja!

Após um tempinho, resolvi encarar o meu destino. Afinal, não seria este o meu desafio após o Fim do Mundo?

Por volta das 14h cheguei em casa completamente sequelado. Pedalei em um ritmo lento, mas de boa. O grande problema foi o sol escaldante. Dias depois continuei a me recuperar da gripe, mas na ânsia de encarar a próxima. E aí galera, quando será o pedal?







Um comentário:

  1. Meu amigo, suas aventuras são bem maiores que às minhas. Eu é que quero andar com você, assim minhas estórias terão mais animação. kkkkk. Mas é assim mesmo, somente nos pondo a prova, todos os dias e todas às vezes, é que NOS superamos e está é a coisa mais importante de todas> a auto-superação. Vamos marcar para irmos esse fim de semana. Abraços.

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