quinta-feira, 2 de abril de 2015

Décimo primeiro dia de pedal - a crise no grupo

Nesse penúltimo dia de pedal acordamos um pouco mais de 7h. Fizemos, como de praxe, o nosso café, arrumamos tudo e partimos para a estrada nos despedindo daquele belo acampamento. 
Assim que reiniciamos o pedal, percebemos que estava sem vento e fazia pouco frio, pelo menos no começo da manhã.
Nossa previsão seria rodar uns 35km até Tolhuin. Lá compraríamos algumas coisas e almoçaríamos. Depois pedalaríamos mais alguns quilômetros até encontrarmos um bom lugar para acampar.
Após umas boas pedaladas e na tranquilidade, chegamos a Tolhuin no tempo previsto. Assim, uns foram comer sanduíche na padaria e outros foram para um boteco almoçar, onde rolou bife a milanesa, arroz, salada, esfirra e pão - um verdadeiro banquete para os esfomeados.
De barriga cheia fomos ao super mercado comprar mais refil para o fogareirozinho, mas estava fechado (na Argentina o comércio, geralmente, fecha de 13h às 15h -  no caso desse supermercado só iria abrir as16h30). Como eram 15h, batemos pedal. 
A partir de Tolhuin, subimos cerca de 400 metros de altitude. A estrada tinha um outro lindo visual. Como disse um argentino que encontramos: "dura, pero linda". Neste visual havia montanhas com mais árvores, muitos rios nos vales e picos elevados. Porém, não só o visual havia mudado. Percebemos alterações também no tempo. 
Nessa, subimos e descemos várias serras. Estávamos acompanhando o belíssimo Lago Fagnano.
A ideia inicial seria pedalar até faltar uns 75km para Ushuaia, mas tínhamos pela frente o desafio de encontrar um lugar para acampar. Até achamos um camping, mas era muito próximo de Tolhuin (apenas 10 km ) e isto quebraria toda a nossa programação.
Em um dado momento, o tempo começou a fechar, muitas nuvens se formaram e, finalmente, a chuva se acentuou. Também o temível vento patagônico chegou. O pedal se tornou mais difícil e também mais nervoso. Havia toda uma preocupação de enfrentarmos condições periclitantes.
Nesse momento, Alex ficou preocupado com o frio da noite e a chuva, pois não havia um bom lugar para acampar e estávamos, verdadeiramente, em risco. Alex então anunciou a possibilidade de buscar um Hostel, já que um transeunte havia dito que em uns 10 km à frente encontraríamos algo.
Esta mudança no planejamento, que implicaria mais tempo pedalando e possíveis despesas extras, sem uma discussão, deixou alguns incomodados, principalmente o Del, o grande parceiro de Alex. Em um dado momento, esse foi tirar satisfações com Alex e rolou um bate boca, onde ambos se sentiram ofendidos. Alex ficou bastante atingindo com a situação, muito provavelmente por causa de histórias anteriores, em especial as "desistências" de Arestides e Chico (Desistência esta entre aspas, porque, na verdade, não houve desistência. Esses parceiros seguiram outros caminhos em suas viagens). 
A situação ficou mais tensa quando Alex disparou a pedalar na frente e sozinho, deixando o grupo na retarguarda. A crise havia se instalado. Aquele, que a rapaziada creditara e autorizara como líder, havia, supostamente, deixado o grupo à deriva. 
Os cinco que ficaram para trás se mantiveram em bloco e pedalaram unidos. Del sempre ficou por último, como que cuidando dos parceiros (e olhe que Del é um monstro no pedal).
A estrada estava péssima, tinha vento, fazia frio, chovia e não havia bom lugar para acampar, Além de tudo isso, estávamos já bastante cansados. Nessa altura do campeonato já davam 18h. 
Quando estávamos no topo de um morro, já quase escurecendo, vimos, embaixo, luzes piscando. De cara sacamos que era o Alex. Ele estava na entrada de uma propriedade privada onde havia um restaurante e algumas casas. Não era o Hostel como havíamos suposto, de acordo com a informação recebida. Era um belo lugar onde tinha um lago e um grande restaurante, mas que já estava fechado. 
Alex, antes de chegarmos, convenceu o responsável do estabelecimento a nos arranjar um lugarzinho de modo que o grupo pudesse passar a noite. Não soubemos exatamente o que Alex falou, mas parece que bateu no coração de Pedro (assim se chamava o argentino e proprietário ou gerente do estabelecimento, ficamos sem essa precisão). Pedro liberou, gratuitamente, uma casinha para gente. Nesta, tinham duas camas e três colchões. Havia também banheiro, água e até lareira! 
O clima estava tenso e quase o grupo não batia papos mais interativos. Mesmo assim o rancho foi organizado. Teve até sorteio para ver que iria dormir nas camas / colchões. Sorte para Nilo, Raffaello e Marcelo.
Entretanto, naquela noite não rolou jantar coletivo,  não houve céu estrelado, não demos risadas... Em compensação, a casinha que dormimos nos proporcionou uma noite quentinha...nos protegeu do frio e, quiçá, nos salvou. 
Havia sido, apesar dos entremeios, uma decisão acertada.




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