
É relativamente comum ouvir piadas e ou comentários, sobretudo
da parte dos homens, do quanto e do como as mulheres protestam e se revoltam
com as suas saídas para os famosos pedais.
Quem participa de grupos de bike
nas redes sociais como Facebook ou WhatsApp já deve ter visto alguma charge
ou tirinha, fazendo uma onda com a situação, como por exemplo: do homem saindo
de madrugada, às escondidas, enquanto sua mulher dorme.
Recentemente em um pedal com uns amigos, cruzei com um outro
grupo de ciclistas (quase todos homens). E qual foi o papo interativo e marcado
por risadas? Justamente uma espécie de auto-gozação do quanto as respectivas
mulheres ficam putas, fazem greve de sexo e protestam por causa dos pedais.
Nesse papo, cada um trazia suas experiências e contava situações mais radicais,
onde suas mulheres eram colocadas no lugar de bravas, incompreensíveis, injustas,
intolerantes... Enquanto eles ficavam no lugar de inocentes, meninos que querem
apenas se divertir e incompreendidos. Alguns diziam também o quanto já havia pelejado
para que as suas mulheres aderissem ao
"esperto do pedal".
Independente de se buscar culpados, a questão que quero chamar
atenção é a Representação Social (campo da Psicologia Social legada por Serge
Moscovici – ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Serge_Moscovici) forjada para a
prática de pedais entre homens na relação com suas mulheres que, segundo estes,
não aderem à tal prática. Quero chamar a atenção dessa particularidade porque
há também situações contrárias, onde mulheres são adeptas ao pedal e os seus
respectivos companheiros protestam (não sei de situações envolvendo casais
homoafetivos).
Particularmente, não vejo que a questão esteja determinada pelo
gênero, mas também sem ele não é possível entender sua complexidade. Pelo que
já pude testemunhar há muito da adesão ou não na atividade do ciclismo e o
quanto isso termina por absorver aquele que se envolve, deixando o parceiro ou
parceira meio que de lado. Isso, portanto, é uma variável a ser considerada.
Mas voltado a questão da Representação Social é interessante
atinar o quanto essas representações (do homem e da mulher na sua relação de
aceitar ou não e se envolver ou não com a prática do pedal) realmente são
atravessadas por duas dimensões, de acordo com a teoria da Construção da
Realidade Social (ver Berger e Luckmann - https://en.wikipedia.org/wiki/The_Social_Construction_of_Reality),
um dos fundamentos, por sua vez, da Teoria das Representações Sociais. As duas dimensões
são: a objetividade e a subjetividade. A primeira corresponde justamente a
concretização e objetivação mesma dessas experiências através das tirinhas, das
charges e mesmo das falas, em momento de encontro entre os indivíduos e ou grupos
de ciclistas. A dimensão da subjetividade tem relação com a própria vivência da
experiência, a vivência marcada, simbolizada, que é história, na visão de
Walter Benjamin (ver https://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Benjamin). Então
quando alguém vê uma imagem da tirinha ou da charge ou quando presencia um papo
como o descrito, vive a representação, atualiza, experiencia, atualiza a
história e cria novas condições, para dar seguimentos ao ciclo, de objetivação-subjetivação.
É claro que esse ciclo não é irredutível e que pode, inclusive
se dissolver.
De todo jeito, no mínimo, é muito interessante experienciar e refletir
essas novas (ou velhas) relações de gêneros em novas práticas, mesmo que
considerada pós-modernas, como é o caso do uso da bike no século XXI.